segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Em Fantasia..

Continuação do post anterior...

Os homens projetam em Fantasia seus anseios, desejos, carências, fomes, medos e sonhos. Se ela pode se tornar um caminho de conhecimento, também pode se tornar uma via de ensimesmamento e egoísmo. Bastian é assaltado por desejos de fazer o bem para os seres de Fantasia dando-lhes histórias, sentido. Mas também se sente inclinado ao desejo de reconhecimento e gratidão, de reverência e submissão.

Ser bom, mas ser conhecido e reverenciado por isso. Ser sábio, a ponto de humilhar os mais sábios e inteligentes, mas ser famoso por isso. Ser notório em Fantasia, uma vez que não o era no mundo dos homens.

Não é difícil perder-se em seus próprios desejos, já o advertia Graograman. Não será bom ter servos feitos de lata e ocos por dentro, que nada fazem além da vontade de seu mestre, como a feiticeira Xaíyde? Será que Bastian é como certos homens que só freqüentam Fantasia para se deleitarem com imagens de poder e controle absolutos? É ele assim tão comum? O Salvador de Fantasia vai estragar tudo desejando somente imperar egoisticamente?

E note que à medida em que Bastian se sente mais inclinado a tais desejos, mais ele se esquece da sua vida na terra dos homens, seu mundo-natal. Embrenhar-se em Fantasia tem seus riscos. Pode-se desejar nunca mais voltar. Há o risco de se perder duplamente. Perder-se no caminho de seus desejos e daí perder-se de si mesmo, cair presa de sonhos megalômanos.

Ao que parece, não é o suficiente salvar Fantasia, não deixar que seus habitantes, uma vez engolidos pelo Nada, se tornem ilusões e mentiras no mundo dos homens. É preciso saber estar em Fantasia.

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