"You've taken your first step into a larger world"
OBI WAN KENOBI
Luke Skywalker deve partir de Tatooine para cumprir o seu chamado. O seu primeiro vislumbre do amplo horizonte no qual adentra é a famosa taberna de Mos Eisley. A diversidade de espécies e o clima moralmente ambíguo e algo hostil do local mostram a Luke que ele está saindo do mundo protegido de seus tios e entrando na perigosa área cinzenta do mundo das relações adultas. O jovem é inexperiente e ingênuo, e logo é alvo da maldade gratuita de dois bandidos.
Mentor, Obi Wan Kenobi, intervém a fim de preservar a integridade física de seu aprendiz. Apela primeiro à dissuasão e, quando esta não surte efeito e a tensão precede a agressão, o mestre elimina o perigo matando os dois bandidos em uma habilidosa sequência de golpes de seu sabre de luz. O episódio deve ser entendido como o segundo aspecto da manifestação do caráter sacerdotal e guerreiro de Obi Wan.
Pouco antes, o mestre Jedi e seu aprendiz foram parados por uma patrulha de stormtroopers do Império que buscavam R2D2 e C3PO, os dois androides e emissários da princesa Leia. Obi Wan consegue facilmente desvencilhar-se dos soldados usando seu poder mental sobre eles. É o aspecto mágico do sacerdote-guerreiro. O homem sagrado adquire controle sobre certas áreas da realidade e sobre certos tipos de homens. Para Luke, essa é a primeira manifestação de um poder transcendente ao qual seu mestre tem acesso: a Força.
Na taberna, Obi Wan contrata a dupla de contrabandistas Han Solo e Chewbacca para levar os dois a Alderaan, onde devem entregar a mensagem da princesa Leia. Na Millenium Falcon, Luke inicia seu treinamento jedi no manejo do sabre de luz. O aprendiz fracassa e Obi Wan sugere que ele tente se defender sem usar os olhos, que abandone seu eu consciente e haja por instinto. Luke, então, consegue defender todos os ataques.
O eu consciente vive a partir das dualidades e das preferências. A visão representa o mundo das formas e da discriminação. Abandonar a visão representa simbolicamente o abandono das distinções e das oposições. A ação de Luke nasce, agora, não da discriminação, mas sim da escuridão que nada distingue porque a tudo abarca em uma unidade subjacente. O indiscriminado dá origem à ação perfeita no mundo do discriminado. Não há eu, nem a espada e nem o adversário. Luke começa a conhecer os caminhos da Força. Esta representa o Absoluto, a realidade que subjaz a tudo e que, portanto, une em si mesma como possibilidades os contrários do bem e do mal.
O mal é representado pelo Império Galáctico, cuja estrutura apresenta a união de duas correntes aparentemente inconciliáveis: uma corrente mágico-religiosa e uma corrente materialista-tecnológica. A primeira é personificada por Darth Vader, o sacerdote-guerreiro que optou pelo lado sombrio da realidade e que traiu a Ordem Jedi em nome dos desejos egoicos de poder e de ordem imposta pela violência externa. Acima de Vader, que simboliza a figura do aprendiz falhado, está o Imperador Palpatine, o mago negro.
A outra corrente é representada pelo cruel Grand Moff Tarkin, comandante militar da Armada Imperial e responsável pela construção da Estrela da Morte. Não obstante, o poder bélico não é mais do que o braço armado de uma dimensão mais sombria, a religião antiga professada por Vader. Os militares não a compreendem e a desprezam, pondo toda a sua fé no terror tecnológico da Estrela da Morte. O Lorde Sith demonstra seu poder enforcando à distância um dos oficiais que teve a ousadia de menosprezar a sua "triste devoção" à Força, chamando-o de "feiticeiro".
O episódio é simbólico e demonstra que o horizonte de Vader, embora pervertido, é mais vasto do que o de seus subordinados. A opressão visível e militarizada esconde a ação de forças invisíveis, muito mais sombrias e sinistras. A ditadura recebe seu fundamento de uma sociedade secreta, os Sith, que servem ao lado escuro da realidade.
Buscando alcançar Aldeeran, Obi Wan e Luke Skywalker são conduzidos, sem que o saibam, à Estrela da Morte, a fortaleza oculta nos céus na qual se encontra cativa a princesa. Mais uma vez, os acontecimentos se desenrolam a despeito dos planos do herói. Descobrindo por acaso que a princesa está na estação espacial, Luke e seus amigos partem para o resgate de Leia, enquanto Obi Wan, conduzido pelo destino, confronta seu antigo aprendiz, Darth Vader.
O eu consciente vive a partir das dualidades e das preferências. A visão representa o mundo das formas e da discriminação. Abandonar a visão representa simbolicamente o abandono das distinções e das oposições. A ação de Luke nasce, agora, não da discriminação, mas sim da escuridão que nada distingue porque a tudo abarca em uma unidade subjacente. O indiscriminado dá origem à ação perfeita no mundo do discriminado. Não há eu, nem a espada e nem o adversário. Luke começa a conhecer os caminhos da Força. Esta representa o Absoluto, a realidade que subjaz a tudo e que, portanto, une em si mesma como possibilidades os contrários do bem e do mal.
O mal é representado pelo Império Galáctico, cuja estrutura apresenta a união de duas correntes aparentemente inconciliáveis: uma corrente mágico-religiosa e uma corrente materialista-tecnológica. A primeira é personificada por Darth Vader, o sacerdote-guerreiro que optou pelo lado sombrio da realidade e que traiu a Ordem Jedi em nome dos desejos egoicos de poder e de ordem imposta pela violência externa. Acima de Vader, que simboliza a figura do aprendiz falhado, está o Imperador Palpatine, o mago negro.
A outra corrente é representada pelo cruel Grand Moff Tarkin, comandante militar da Armada Imperial e responsável pela construção da Estrela da Morte. Não obstante, o poder bélico não é mais do que o braço armado de uma dimensão mais sombria, a religião antiga professada por Vader. Os militares não a compreendem e a desprezam, pondo toda a sua fé no terror tecnológico da Estrela da Morte. O Lorde Sith demonstra seu poder enforcando à distância um dos oficiais que teve a ousadia de menosprezar a sua "triste devoção" à Força, chamando-o de "feiticeiro".
O episódio é simbólico e demonstra que o horizonte de Vader, embora pervertido, é mais vasto do que o de seus subordinados. A opressão visível e militarizada esconde a ação de forças invisíveis, muito mais sombrias e sinistras. A ditadura recebe seu fundamento de uma sociedade secreta, os Sith, que servem ao lado escuro da realidade.
Buscando alcançar Aldeeran, Obi Wan e Luke Skywalker são conduzidos, sem que o saibam, à Estrela da Morte, a fortaleza oculta nos céus na qual se encontra cativa a princesa. Mais uma vez, os acontecimentos se desenrolam a despeito dos planos do herói. Descobrindo por acaso que a princesa está na estação espacial, Luke e seus amigos partem para o resgate de Leia, enquanto Obi Wan, conduzido pelo destino, confronta seu antigo aprendiz, Darth Vader.
O círculo está completo. Acontece finalmente o duelo entre o mago branco e o discípulo caído. Há uma dualidade nesse confronto que expressa as possibilidades do Caminho. Obi Wan simboliza a vitória sobre os instintos e as tendências malévolas e egoístas do ser humano, enquanto Darth Vader simboliza o fracasso do homem em vencer esses aspectos obscuros de sua natureza. O mestre também está em julgamento, pois guiar o aprendiz no Caminho era a sua responsabilidade primária.
Obi Wan sabe que falhou na missão de formar seu discípulo e agora enfrenta as consequências de seus próprios erros. O seu objetivo não é vencer o duelo, mas sim conter o mal e abrir caminho para a Nova Esperança. Abandonando os desejos egoístas, o Jedi escolhe o autossacrifício a fim de que Luke possa escapar e realizar seu destino. Obi Wan adverte Darth Vader de que se ele o matar, seu antigo mestre ficará mais poderoso do que jamais poderia imaginar. A luta com Vader possui traços iniciáticos, pois a morte de Obi Wan causa uma mudança de seu estatuto ontológico. O Jedi morre para este mundo e renasce em outro mais vasto e mais fundamental.
Nesse ínterim, Luke e seus companheiros conseguem escapar da Estrela da Morte. A libertação de Leia retoma o tema tradicional da princesa aprisionada na fortaleza e guardiã do tesouro que é resgatada pelo herói. O segredo da destruição da Estrela da Morte está agora nas mãos da aliança rebelde e um ataque é logo lançado para explorar a fraqueza da estação espacial. Luke Skywalker receberá a confirmação de seu chamado no assédio à fortaleza imperial.
O desafio à frente de Luke é singularmente difícil, quase impossível de ser vencido: um tiro certeiro em um alvo diminuto. Um a um os pilotos rebeldes fracassam e a esperança acaba repousando sobre aquele piloto interiorano, inexperiente e sem nenhuma tradição guerreira. O desafio irrealizável, contudo, é um aspecto central da mitologia do herói. Hércules realizou doze trabalhos, Jasão roubou o velocino de ouro, Teseu enfrentou o minotauro, Perseu matou a medusa, e assim por diante.
Mas o desafio não necessita sempre ser uma proeza física ou guerreira e pode ter o aspecto de uma demonstração ímpar de habilidade. No épico indiano Mahabharata, o príncipe pândava Arjuna, durante seu treinamento de arquearia, é instado por seu mestre Drona a acertar com uma só flechada a cabeça de um pássaro de madeira postado no topo de uma árvore. Drona questiona os irmãos de Arjuna sobre o que estavam vendo enquanto miravam a cabeça da ave. Todos responderam que viam o mestre, a árvore, os colegas e o pássaro. Arjuna foi o único que respondeu que via somente a cabeça do pássaro, e, por isso, acertou o alvo. Mais adiante, em outro episódio, Arjuna é desafiado a acertar o olho de um peixe de ouro colocado no alto de um poste mirando-o indiretamente em uma bacia d'água.
Talvez a mais conhecida cena de reconhecimento do príncipe seja a do desafio do arco de Odisseu (Ulisses) no canto XXI da Odisséia. Disfarçado como um idoso, Odisseu chega sem ser reconhecido em seu palácio real em Ítaca, onde os arrogantes pretendentes de Penélope abusam da lei da hospitalidade. Uma competição é organizada para escolher o novo esposo de Penélope: armar o arco do rei Odisseu e disparar uma seta atravessando os orifícios de doze machados alinhados. Os pretendentes falham e somente o rei, ainda disfarçado, realiza a façanha. O desafio vencido por Odisseu revela a sua verdadeira identidade e segue-se o massacre dos pretendentes.
Analogamente, Luke Skywalker é o príncipe ainda desconhecido diante do desafio que confirmará o seu chamado. Exteriormente, ele não aparenta sua nobreza e seu valor. Mas ambos ficarão evidentes no momento em que obtiver êxito na prova de habilidade. Os outros pilotos falham e só resta Luke. A voz de seu mestre Obi Wan ressoa em sua mente exortando-o a abandonar os meios tecnológicos externos e a confiar na Força. Sua ação deve provir justamente da fonte originária de tudo, anterior a qualquer impulso egoico fruto de avaliações enviesadas pelo desejo ou pelo medo. Contra todas as probabilidades e a despeito de todas as avaliações humanas, Luke dispara e acerta o alvo impossível. A fortaleza imperial é destruída.
O desafio é vencido pelo herói. O chamado do Caminho é confirmado. As qualidades de Luke Skywalker são reconhecidas pela nobreza representada pela princesa Leia. O momento é de júbilo e de felicidade. A Via, contudo, está só no início. Em breve, o herói terá de realizar a descida ao Hades.
...
Leia também a primeira parte dessa análise:
Luke Skywalker e o simbolismo iniciático do herói - parte 1 - O Chamado:
2 comentários:
Fenomenal. Meus sinceros parabéns. Estou gostando muito de ler. Por favor, continue. Gostaria muito de ler sobre a relação entre Luke e Vader no Ep. VI.
Olá, Filipe!
Obrigado pelo elogio!
Farei artigos sobre os dois outros episódios de Star Wars.
Abraço!
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