O livro Ramanuja et la Mystique Vishnouite de A. M. Esnoul trata da vida e da obra de Ramanujacarya, santo medieval hindu (séc. XI D.C.) da tradição devocional (bhakti) teísta vaishinava, enfocando tanto o ambiente no qual a sua vida se desenvolveu quanto os antecedentes históricos da tradição na qual estava inserido.
Um de seus antecessores famosos foi Yamunacarya, no século X da era cristã, um grande acarya (mestre) e debatedor invencível. Esnoul narra um curto episódio da vida de Yamuna no qual são demonstrados seus talentos para o embate intelectual e que também dá testemunho da tradição dos confrontos dialéticos na Índia.
Yamunacarya nasceu às margens do rio homônimo e, tendo seu pai Nathãmuni falecido cedo, foi criado por sua mãe e sua avó. Desde cedo provou ser dotado de grande inteligência e teve como mestre o pandit (sábio) Mahâbhâshyabhatta, que o introduziu na filosofia, na gramática e nos outros saberes.
Na corte do rei Côla, havia um pandit de nome Vidvajjanakolâhala, de grande poder dialético, que havia derrotado todos aqueles com quem entrara em discussão. Com a autorização do rei, recebia tributos daqueles a quem havia derrotado, entre eles Mahâbhâshyabhatta. Como este há muito não tinha condições de pagar o referido tributo, o pandit real irritou-se e enviou um emissário para fazer a cobrança.
Ao chegar, o emissário encontra somente Yamuna e este, diante da arrogância do mensageiro, ao invés de pagar o tributo, diz-lhe que que seu mestre Mahâbhâshyabhatta ainda era um adversário digno e que bastaria um só dos seus discípulos, o mais humilde deles, para derrotar o pandit real.
Retornando ao palácio, o emissário relatou o que havia ouvido de Yamuna e o rei, cioso da fama de seu pandit, resolve trazê-lo ao palácio para uma disputa com Vidvajjnakolâhala. Ao lançar o primeiro olhar sobre o jovem que ousara desafiar seu pandit, o rei considerou-o inofensivo e declarou-lhe que, se vencesse o desafio, lhe daria metade de seu reino. A rainha, no entanto, apostou na vitória de Yamuna.
O embate dialético inicia com o pandit real fazendo perguntas cada vez mais difíceis a Yamuna e com este respondendo-as correta e brilhantemente. Chegou, então, a hora de Yamuna revidar. Ele fará três perguntas as quais o pandit deve refutar, sob pena de perder o embate.
Yamuna faz a primeira pergunta: "Podes tu refutar a seguinte afirmação: tua mãe não era uma mulher infértil?" O pandit real fica calado, pois ele era a prova viva da verdade da afirmação.
A segunda pergunta foi: "Eu afirmo que o rei é soberanamente justo." Vidvajjnakolâhalla fica atônito e mudo. Como poderia refutar tal afirmação sem se pôr em perigo mortal?
E a terceira pergunta foi: "Eu afirmo que a rainha é perfeitamente casta. Podes tu refutar isso?" O pandit real sequer esboçou uma resposta, restando mudo e derrotado.
Toda a audiência gritou: "Ala Vandâr!" (Eis o vencedor!). O rei, por sua vez, manteve a sua palavra e deu a Yamuna metade de seu reino.
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