Se há uma dicotomia na filosofia indiana, não é certamente entre corpo e alma ou matéria e espírito como no ocidente. O corte, como testemunham os Upanishads, está situado entre determinado e indeterminado. De um lado estão entrelaçados determinação, limite, substancialidade, forma, multiplicidade, mudança, ego, vida-morte-e-renascimento. Do outro, está o indeterminado, " o que não tem nome ou forma", o infinito e o eterno.
No Budismo a doutrina do Anatma, da não-substancialidade do EU tem seu desenvolvimento na negação de Nagarjuna Acarya da substancialidade de todos os fenômenos. Para ele as coisas são dependentemente originadas. Se elas dependem de outras, não têm natureza intrínseca e não são subsistentes por si mesmas. Elas são SUNYA, vazio, ausência de natureza intrínseca e independente. Em outras palavras, as coisas não são coisas.
Sankara Acarya, o filósofo Vedantino ortodoxo, que sofreu influência de Nagarjuna por meio de seu mestre Gaudapada Acarya, também nega a realidade última dos fenômenos determinados em favor de Brahman Nirguna, o indeterminado. Brahman é a verdadeira natureza, a "substância" por trás das coisas passageiras. Mas dessa substância nada se pode dizer, pois é sem limites, "sem outro", infinita. É o indeterminado que possibilita o determinado.
Sankara e Nagarjuna parecem agarrar o mesmo elefante por partes diferentes. Se é verdade que as coisas dependentemente originadas não têm natureza intrínseca e independente como quer Nagarjuna, é também verdade que as coisas não vêm do nada. Algum solo imutável é necessário. Sankara afirmaria ser esse solo Brahman Nirguna. Mas Brahman não é algo, uma coisa, nada de determinado. O que dizer de "algo" sem determinações a não ser que ele é nada?
Essa disputa pode ser harmonizada somente na idéia de que o solo imutável é a infinita possibilidade de determinações. Possibilidade não é nada determinado, mas dá azo à determinações. Tampouco é nada, embora não sendo algo. É aí que está o divino, na perpétua possibilidade de ser, de seres.
O divino é a infinita possibilidade de determinação. O divino é lótus florescendo.