segunda-feira, 30 de maio de 2011

A preservação da cultura grega no Oriente: Grandishapour e Bayt Al-Hikmah


Rei persa sassânida Khosrau I

Aristutalis


Bayt Al Hikmah


Bayt Al Hikmah



Quando o imperador bizantino Justiniano ordenou o fechamento de todas as escolas filosóficas pagãs em 529DC, houve um êxodo de filósofos e pensadores em direção ao oriente. Damascius, o último hierarca da Academia platônica, por exemplo, encontrou refúgio e proteção no império persa sassânida.

Sob os auspícios do rei sassânida Khosrau I, formou-se em Gundishapour uma academia científica dedicada ao estudo da astronomia, da matemática, da filosofia e da medicina. Ao mesmo tempo, estudiosos traduziram para o persa diversas obras do mundo clássico grego, bem como da sabedoria indiana e chinesa.

No século VII os exércitos islâmicos árabes derrotaram definitivamente o império persa pondo fim à dinastia sassânida. No ano de 832 DC o califa abássida Al Ma'mum fundou em Bagdá o Bayt Al Hikmah, a "Casa da Sabedoria".

Segundo a tradição, Al Ma'mun teve um sonho no qual Aristóteles lhe apareceu, discutiu com ele sobre a natureza do bem e pediu-lhe que se dedicasse a reunir e traduzir as obras da Grécia antiga. O califa envia então expedições ao império bizantino, à Índia e à Pérsia em busca de obras filosóficas e científicas. Trazidas à Casa da Sabedoria, elas eram traduzidas por uma equipe de sábios de diversas origens e religiões liderados pelo cristão nestoriano Hunayn Ibn Ishaq.

Foram traduzidos livros de Platão, Aristóteles, Plotino, Ptolomeu, Galeno, Euclides, Hipócrates, Plutarco, Aryabhata, Brahmagupta, além de textos chineses.

Mesmo com todo o zelo, seriedade, respeito e aperfeiçoamento, muitas dessas traduções atribuíam obras apócrifas a autores célebres. A Platão (Aflatun, para os árabes), o autor clássico menos traduzido, foi atribuída a autoria, além de suas próprias obras, de livros de alquimia e de magia.

Aristóteles - Aristutalis - se tornou rapidamente o autor grego mais traduzido e lido no Islã e teve quase a totalidade de sua produção conhecida e estudada. Sua fama trouxe-lhe a paternidade de obras apócrifas como aquela que o ocidente cristão conhecerá com o nome sugestivo de Secretum Secretorum.

Mas a história mais interessante é o do apócrifo Teologia de Aristóteles. Por um erro ainda hoje não completamente explicado, essa paráfrase de capítulos das Enéadas de Plotino foi incorporada ao corpo aristotélico como obra original do estagirita.

Como resultado, o Aristóteles islâmico é permeado pelo neoplatonismo plotiniano. Alguns sábios muçulmanos duvidaram da autoria aristotélica desse escrito, mas acolheram as teses nele contidas por seu valor intrínseco. Esse aristotelismo neoplatonizado exercerá grande influência na filosofia islâmica, como testemunha a obra de Ibn Sina.

É graças ao esforço de preservação da cultura clássica dentro do universo islâmico que, através do Al Andalus, a sabedoria grega chega à Europa na época das grandes traduções dos séculos XII e XIII. E são as traduções de obras de Aristóteles até aquele momento desconhecidas, principalmente as de metafísica e de filosofia natural, que tornarão possível a era de ouro da Escolástica medieval, representada precipuamente por São Tomás de Aquino.

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