sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

A herança grega e o cientista

No ocidente, as coisas particulares e passageiras só importam enquanto instâncias, exemplares, daquilo que é geral e imutável, objeto próprio da mente humana.

Mesmo o cientista moderno somente se interessa pelo que é observado na medida em que isto pode lhe fornecer conhecimento do que é pra sempre inobservável: uma lei universal. Uma gota d`água particular só é interessante porque seu comportamento é uma instância (um exemplo, uma amostra) de um comportamento universal de todas as gotas do passado do presente e do futuro.

O que está à disposição da observação é a gota d`água aqui e agora que me diz de um comportamento que creio ser universal (de todas as gotas), pois jamais poderei vê-lo realizar-se em todas as suas instâncias particulares que são numericamente indefinidas, quiçá infinitas. Ao fim, o cientista se sente justificado para falar de “a gota d`água” e dizer que toda e qualquer gota d`água apresentará o mesmo comportamento em condições determinadas.

É claro que no caso do cientista o universal é encontrado graças à idéia de que a mera observação de instâncias passadas de um fenômeno permite a inferência de um comportamento universal e necessário. Como bem apontaram Al Ghazali, David Hume e Karl Popper isso é logicamente injustificado, pois da conexão constante na experiência não se infere o universal e necessário.

Mas o que interessa aqui é o traço fundamental que essa tentativa revela, ou seja, a busca pela Necessidade, pelo imutável, já apontada por Shestov.

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