segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Hume e o ceticismo relaxado II


"A conduta de um homem que estuda filosofia dessa maneira desleixada é mais verdadeiramente cética do que a de alguém que, sentindo em si mesmo uma inclinação para ela, está, contudo, tão desesperado com dúvidas e escrúpulos a ponto de rejeitá-la totalmente. Um verdadeiro cético será desconfiado de suas dúvidas filosóficas, bem como de sua convicção filosófica."

DAVID HUME





Hume é um cético moderado, ou seja, um cético que conhece a natureza humana o bastante para duvidar da força que qualquer argumentação, ainda que válida e irrefutável, possa ter sobre as crenças naturais e instintivas. Os argumentos céticos revelam a fragilidade de nosso entendimento, lançam dúvidas sobre a possibilidade de se assegurar da existência do mundo externo e de justificar racionalmente nossos raciocínios baseados na experiência e conduzem-nos à suspensão do juízo. Contudo, eles nada podem fazer contra os instintos naturais de conservação que regem a natureza dos seres vivos e, em particular, a do homem.

Não há risco de inação, pois não há possibilidade de que argumentos se sobreponham aos instintos. O cético está correto e suas críticas são irrefutáveis, desbancando com elas as pretensões de um racionalismo onipotente e mostrando os estreitos limites de nosso entendimento. Mas a vitória do ceticismo na argumentação desvela também a força dos instintos na medida em que nenhum argumento resiste à força das necessidades de conservação do ser vivo.

No fim o ceticismo revela a fragilidade do entendimento e da argumentação assim como a inelutável natureza dogmática de nossas crenças mais básicas que garantem nossa sobrevivência cotidiana .

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