sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Lao Tzu, os desejos e o Tao

"Quando as pessoas perdem sua natureza essencial por causa dos desejos, suas ações nunca são corretas. Governar uma nação dessa forma resulta em caos, governar a si mesmo dessa forma resulta em corrupção."

LAO TZU, Livro de Wen-Tzu,7

Lao Tzu (老子) ensina que os desejos afastam os homens de sua verdadeira natureza, o Tao (道). Os desejos pelas coisas turvam a mente e perturbam a mansidão originária do Princípio Supremo. Quando o homem deseja algo, não vê as coisas tais como elas são em sua inteireza, mas somente tem olhos para o que lhe é útil ou apetecível.

O sábio, por outro lado, vive na natureza essencial, no Tao, e não usa seu saber para explorar as coisas ou deixa que os desejos perturbem a harmonia. Ele está seguro e centrado em qualquer situação. Porém, poucos são capazes de o imitar por conta dos apegos às coisas do mundo.

Clara serenidade é a consumação da virtude, docilidade flexível é a função do Tao, e a calma vazia é o ancestral de todas as coisas. Presentes as três, entra-se na informidade, que é um termo para unicidade, e unicidade é fundir-se sem pensamento com o mundo. O ser nasce do não-ser, a realização nasce do vazio.

Há somente cinco notas musicais, mas as variações são tantas que está para além de nossa capacidade ouvi-las. Há somente cinco sabores, mas as variações são tantas que está para além de nossa capacidade de degustá-las. Há somente cinco cores, mas as variações são tantas que está para além de nossa capacidade de enxergá-las.

Quando a primeira nota é estabelecida, as cinco notas são definidas. Quando a doçura é estabelecida, os cinco sabores são definidos. Quando o branco é estabelecido, as cinco cores são definidas. Em termos do Tao, quando o Uno é estabelecido, todas as coisas nascem. O Uno se aplica a tudo. Ele é profundo como o oceano, vasto como as nuvens. Parece com o nada, porém existe. Parece estar ausente, mas está presente.

Os desejos não permitem que as coisas sejam o que são, enxergam tudo pela ótica da utilidade. O sábio vive no Tao e, portanto, no origem equânime de todas as coisas. Deixa as coisas serem o que são, não interfere no seu curso natural. Sua ação é não-ação, "wu wei" (無為).

Lao Tzu, no Livro de Wen-Tzu,8,diz que "a totalidade de todos os seres passa por uma única abertura. As raízes de todas as coisas emergem de um único portão." Uma vez estabelecida a unicidade, toda a vastidão dos entes torna-se real. O Uno é a realidade primordial presente em tudo e que dá origem a tudo. 

O não-ser dá origem ao ser. O vazio não é a ausência absoluta, mas sim a plenitude que a tudo abarca na qualidade de Princípio de tudo. É informe, pois é ontologicamente anterior à toda e qualquer forma, anterior às dez mil coisas. O olhar do sábio vê os seres todos a partir dessa unicidade originária que estabelece todos os entes.

Por isso, seu olhar é equânime, sem exaltações, seguro e sereno em quaisquer situações. Ele nunca perde sua natureza essencial em nome dos desejos, dos apegos ou das aversões. Para ele tudo é reunido em uma interioridade singular, sem começo e sem fim. 

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