sábado, 15 de abril de 2017

"Samurai Assassin", tragédia, ambição e convenções sociais



Samurai Assassin (1965), dirigido por Kihachi Okamoto, apresenta uma história de fundo histórico com contornos trágicos. Em 1860, pouco antes da Restauração Meiji, um grupo de conspiradores reúne-se em frente à saída do portão Sakurada do castelo Edo. Seu objetivo é assassinar Ii Naosuke, daimyo de Hikone, braço direito do shogunato Tokugawa. O motivo da conspiração é a insatisfação com a escolha do Shogun, influenciada por Naosuke e a posterior Purga de Ansei, ordenada por ele para calar os descontentes.

Sabendo dos hábitos de Naosuke, os conspiradores aguardam por sua saída para atacá-lo em uma emboscada. Naosuke, entretanto, não sai do castelo Endo e a frustração do plano dos conspiradores desperta em seus líderes, em especial Kenmotsu Hoshino, a desconfiança de que há traidores entre eles. Uma investigação é iniciada e as suspeitas recaem sobre dois forasteiros, Tsuruchyio Niiro e Einosuke Kurihara.

Hoshino, líder dos conspiradores, deseja saber os motivos dos dois suspeitos para juntarem-se à conspiração. Tsuruchyio Niiro (interpretado pelo grande Toshiro Mifune) é um ronin pobre e inclinado aos excessos da bebida e das mulheres. Aparentemente, seu motivo é o anseio de conquistar uma posição como samurai. Einosuke Kurihara é um ex-servo de um importante daimyo que largou tudo para dedicar-se somente aos estudos e à arte da espada. Sua motivação parece vir de uma certa visão universalista do bem-estar humano haurida na leitura de filósofos ocidentais.

Os dois tornaram-se bons amigos após um combate de kendo, onde mostraram-se tão habilidosos um contra o outro que ambos reconheceram o empate e a equivalência de seus talentos na esgrima. Embora amigos, eles têm vidas bem diferentes. Einosuke vive bem, é abastado e casado com uma mulher de posição, enquanto Niiro é paupérrimo e vive de pequenos serviços.

Niiro, no entanto, sem o saber, é filho bastardo de um nobre importante e sua mãe recusa-se a revelar a sua identidade. Seu único contato com seu passado, após a morte de sua mãe cinco anos antes, é um comerciante, Masagoro Kisoya, que pagou seus estudos e que, eventualmente, paga seus excessos. Kisoya sabe a identidade do pai de Niiro, mas prometera à mãe jamais revelá-la.

Mais à frente, descobre-se o motivo pelo qual Niiro tornou-se um "cão vadio", como ele mesmo afirma, e o motivo de desejar tanto ser um samurai a ponto de juntar-se à uma conspiração de assassinato. Quando jovem, Niiro apaixonou-se por uma moça de alta estirpe e pediu-a em casamento. O pai, contudo, recusou-lhe a mão, pois Niiro não era de família nobre, mas sim um bastardo filho de uma concubina. Ele só daria a mão da filha se Niiro pudesse provar a ascendência nobre de seu pai.

Kisoya e a mãe de Niiro recusam-se a revelar-lhe a identidade de seu pai, destruindo assim as suas possibilidades de casamento. Niiro, amargurado e revoltado, entrega-se aos excessos da bebida e das mulheres e, como resultado de seu comportamento descontrolado, é expulso do dojo onde praticava kendo. Decide, então, tornar-se um ronin. 

Depois de tantos anos de pobreza e de descaminhos, Niiro quer, de novo, ser um samurai. A conspiração de Hoshino é sua grande chance. Mas o preço a pagar será alto. Uma ligação fortuita de seu amigo Kurihara com alguém próximo ao daimyo Ii Naosuke, lança sobre Kurihara a certeza de que ele é o traidorHoshino, então, ordena a Niiro que o mate, já que ele é o único que pode equiparar-se a Kurihara em habilidade no uso da espada.

Niiro, mesmo sabendo que Kurihara é seu amigo e que sempre o tratou com estima e deferência, deixa seu desejo de ser samurai falar mais alto que a amizade e embosca Kurihara, matando-o. No entanto, para sua desgraça, logo depois, Hoshino encontra o verdadeiro traidor, mata-o e queima todos os registros de sua participação no grupo. Kurihara, afinal, era inocente e Niiro matara injustamente seu único e verdadeiro amigo por nada.

Os planos dos conspiradores seguem e Hoshino, um dia antes da data marcada da nova tentativa de assassinato de Ii Naosuke, envia homens para assassinar Niiro. Este, contudo, mata todos eles e segue para o locar combinado. Kisoya, o mercador amigo da mãe de Niiro fica sabendo indiretamente da participação de Niiro na conspiração e, desesperado, procura-o para impedí-lo.

O desespero de Kisoya justifica-se. Niiro não sabe, mas é o filho bastardo de Ii Naosuke, o alvo dos conspiradores. Sem querer, ele cometerá parricídio. Kisoya não consegue encontrar Niiro e este parte célere para o local combinado com o resto dos conspiradores.

Enfim, na hora marcada, Ii Naosuke sai do castelo Endo com sua comitiva. Os conspiradores os atacam. Após luta renhida, Niiro consegue alcançar Ii Naosuke e o decapita. Niiro não sabe, mas Hoshino também queimou todos os seus registros no grupo, de modo que ninguém saberá do seu feito e nenhum posto de samurai ser-lhe-á concedido.

E mais. Como Ii Naosuke prevê em seus últimos instantes de vida, aquele assassinato enfraquecerá o shogunato e dará um fim a era dos samurais. Ignorante de tudo isso, Niike segue na neve exibindo a cabeça de Ii Naosuke fincada em sua espada.

A história de Niiro tem alguns traços da tragédia de Édipo, pois ele mata seu pai sem o saber, apesar de não casar com a própria mãe, como no mito grego. Todavia, Ii Naosuke não assume seu filho, abandona-o, afasta-o, entrega-o a outros e, por fim, considera que ele está morto. Mas as Moiras fazem com que o filho acabe participando do assassínio de seu próprio pai.

Em alguma medida, está em ação uma justiça trágica, já que o rejeitado ataca o coração da autoridade temporal que sustenta todas as convenções que o condenam à sua vida miserável. Mas isso não acontece pela ação consciente do rejeitado contra a autoridade, tomada deliberadamente como alvo de sua revolta. Isso acontece como consequência do pecado pessoal, da ação injusta da autoridade que resulta em um castigo acidental.

Niiro, contudo, não é exatamente a vítima inocente das injustiças da comunidade humana. Ele escolhe tornar-se um ronin e abandonar-se aos vícios. E, quando a oportunidade aparece, Niiro não se furta a matar seu único amigo verdadeiro a fim de tornar-se um samurai. Ele escolhe cometer injustiças em nome da ambição e da posição social. Embora, em certo sentido, seja inocente da morte do pai, ele não o é da morte de Kurihara.

Há algo de ingênuo e até mesmo de imaturo em Niiro. É o beberrão que, com suas extravagâncias, foge das convenções sociais. É também o homem que, sóbrio, é capaz de matar para mantê-las e beneficiar-se delas. Confusão e contradição encontram-se nos atos de Niiro.

Se, em suas últimas palavras, Ii Naosuke tinha razão em afirmar que seu assassinato teria como efeito não o fortalecimento, mas o fim do shogunato, então, simbolicamente, os atos, as motivações e as personalidades de Niiro e dos conspiradores representam as forças desagregadoras que moviam-se no interior daquela instituição e que a conduziram à queda. 

terça-feira, 4 de abril de 2017

Popper, Hayek e o contexto histórico-político de "The Poverty of Historicism"



"Eu vinha pensando há muito sobre os métodos das ciências sociais. Afinal, foi em parte uma crítica ao marxismo que iniciou, em 1919, minha caminhada para o Logik der Forschung. Eu havia palestrado no seminário de Hayek sobre 'A Pobreza do Historicismo', uma palestra que continha (ou eu assim pensava então) algo como uma aplicação das idéias do Logik der Forschung aos métodos das ciências sociais. (…) Entretanto, eu estava muito relutante em publicar qualquer coisa contra o marxismo: onde eles ainda existiam no continente europeu, os social-democratas eram, no fim das contas, a única força política resistindo à tirania. Eu sentia que, naquela situação, nada deveria ser publicado contra eles. Mesmo que eu considerasse sua política como suicida, era irrealista pensar que eles poderiam ser reformados por uma peça de escrita: qualquer crítica poderia somente enfraquecê-los."

KARL POPPER, Unended Quest, pag. 129


Em sua autobiografia intelectual, Unended Quest, nos últimos parágrafos do capítulo 23, Popper trata do contexto histórico-político de nascimento de The Poverty of Historicism. O trecho apresenta uma série de informações interessantes sobre o contexto histórico-político de gênese da obra.

Em primeiro lugar, Popper afirma que a lógica das ciências sociais era objeto de sua reflexão há muito e que ele considerava que as teses apresentadas no The Poverty of Historicism não eram mais que a aplicação do método científico propugnado em Logik der Forschung (posteriormente publicado em inglês com o título The Logic of Scientific Discovery). A afirmação é interessante porque permite pensar os dois livros como obras complementares dentro de um projeto de reforma do modo como se concebia o método científico. 

Em tese, o método hipotético-dedutivo defendido por Popper teria não somente a virtude de resolver os problemas epistemológicos do indutivismo da concepção tradicional do método científico, mas também de resolver o problema da aparente incompatibilidade entre os métodos das ciências naturais e aqueles das ciências sociais. Em outros termos, seria possível garantir a racionalidade do método científico ao mesmo tempo em que se garantia sua aplicabilidade tanto ao mundo natural quanto ao mundo humano.

Outro aspecto interessante é o cálculo político da publicação do texto. Popper admite que, naquele momento, segunda metade da década de trinta, os social-democratas resistiam quase que isoladamente à ascensão nazi-fascista e, para que suas teses não acabem servindo de combustível para essa ameaça, ele decide postergar a publicação de suas idéias. 

É certo que Popper considera tanto o nazi-fascismo quanto o socialismo como espécies de historicismo e que, por conseguinte, ele não pode defender nenhum deles. Não obstante, Popper reconhece que não são os socialistas a ameaça imediata naquele momento e, como idéias têm consequências, não deseja que suas teses ajudem, ainda que indiretamente, no fortalecimento tirania de Hitler. A situação muda de figura em março de 1938 com o Anschluss, a anexação da Áustria pela Alemanha nazista. Popper, então, considera que não é mais possível retardar a publicação de suas teses.

Algumas das informações supracitadas são também expostas em The Poverty of Historicism antes ainda do prefácio, em uma seção sugestivamente intitulada Historical Note na edição inglesa. Ali Popper afirma que a tese central do livro – de que a idéia de um destino histórico é simplesmente uma superstição e de que não há meios científicos ou não de prever o curso da história humana – foi concebida no inverno de 1919-1920. 

O rascunho principal de seus argumentos foi completado em 1935 e um texto já intitulado The Poverty of Historicism foi apresentado entre janeiro e fevereiro de 1936 em uma sessão privada em Bruxelas, na casa de um amigo chamado Alfred Braunthal. Pouco depois, um texto similar foi apresentado por Popper no seminário de Friedrich von Hayek, na London School of Economics. Após a rejeição de um periódico cujo nome não é citado, Popper finalmente publica a versão final do texto em três partes na revista Economica, volume XI, números 42 e 43, em 1944 e no volume XII, número 46, em 1945.

No ano de 1944, o economista e filósofo social austríaco Friedrich von Hayek, expoente da chamada Escola Austríaca de Economia publica The Road to Serfdom, obra onde criticava veementemente todas as tendências coletivistas e de planificação da economia e defendia o liberalismo como solução para os problemas econômicos vigentes e a liberdade econômica como garantia última da liberdade política. 

Dados o cenário ético-político do nascimento das teses epistemológicas de Popper* e a amizade e a afinidade intelectual que o uniam a Hayek, não parece ser coincidência que Popper tenha publicado em 1944 a obra The Poverty of Historicism, a sua crítica ao utopianismo e ao historicismo característicos das filosofias políticas coletivistas e planificadoras criticadas por Hayek em seu livro. 

Assim como Hayek, Popper enxerga nas tendências coletivistas e utopistas do marxismo e de outras correntes políticas não somente teses econômica e epistemologicamente errôneas, mas também (quiçá, sobretudo), um perigo real para as liberdades individuais e um caminho para a servidão e para a violência estatal. Por esse motivo, lê-se na dedicatória de The Poverty of Historicism:

"Em memória dos incontáveis homens, mulheres e crianças
  de todos os credos, nações ou raças,
  que tombaram vítimas da crença fascista e comunista nas
  Leis Inexoráveis do Destino Histórico."

...


Leia também:

Sobre as críticas de Popper ao historicismo e ao utopismo:

http://oleniski.blogspot.com.br/2016/11/popper-logica-e-impossibilidade-de.html

domingo, 2 de abril de 2017

Ilíada, XVI: a obstinação de Aquiles e a morte de Pátroclo


Sono (Hypnos) e Morte (Thanatos), sob o olhar de Hermes, carregam o corpo de Sarpédon, filho de Zeus

"Cego! Se houvesse prestado atenção ao conselho de Aquiles,
provavelmente teria escapado da Morte sinistra.
Mas a vontade de Zeus é mais forte do que o arbítrio dos homens,
pois fácil lhe é pôr em fuga o mais bravo e negar-lhe a vitória,
ainda que fosse ele próprio que houvesse a lutar instigado.
Brio, desta arte, ele agora, no peito de Pátroclo inflama."

ILÍADA, XVI (tradução de Carlos Alberto Nunes)


Ao perceber que os troianos estão a ponto de queimar os navios aqueus, Pátroclo interpela Aquiles para que retorne à pugna sangrenta, resolvendo-se finalmente a auxiliar seus companheiros de luta. No diálogo, Pátroclo pergunta a Aquiles se ele não estaria evitando a batalha por causa da profecia de sua mãe, Tétis, de que, se continuasse a combater em Tróia, excelsa glória alcançaria, embora morresse em combate.

Veementemente Aquiles nega a suspeita de Pátroclo e afirma que seu motivo verdadeiro de retirar-se das batalhas é a injustiça contra ele praticada por Agammemnon ao tomar-lhe a bela Briseis, seu espólio de guerra. É interessante notar como a fala de Pátroclo indica a suspeita de que Aquiles pode não estar sendo totalmente movido pelo desejo da justa restituição da honra externa, como ele afirma.

Há ambiguidade nas ações de Aquiles e, principalmente, em sua recusa de participar da luta contra os troianos. Isso significa que Aquiles, em alguma medida, está dividido, que em seu imo peito motivos conflitantes influenciam sua decisão. A cólera contra Agammemnon, a recusa das Preces e, agora, a obstinação em continuar retirado mesmo na iminência da destruição da frota aquéia assumem uma conotação mais sombria quando vistas sob a luz da fala de Pátroclo.

Diante da negação de Aquiles, Pátroclo pede-lhe que, ao menos, permita que ele lidere o contra-ataque aqueu vestido com sua armadura e empunhando suas armas divinas. Aquiles consente, mas adverte Pátroclo de que ele deve restringir-se a expulsar os troianos da praia onde estão os navios aqueus, salvando-os da destruição pelo fogo. Ele não deve, levado pelo ímpeto guerreiro, avançar  e conduzir a luta até os muros de Tróia, pois, ao fazer isso, um deus poderia descer do Olimpo para proteger os troianos.

Pátroclo parte para a guerra e expulsa os troianos da praia, salvando a frota aquéia. Não contenta-se com isso e, levado pelo calor da pugna sangrenta, prossegue a perseguição aos troianos até os portões de Ílion. Sua glória aumenta quando consegue abater com um dardo o lício Sarpédon, filho de Zeus, de quem o senhor do Olimpo ordena a Febo Apolo e aos irmãos gêmeos Sono e Morte que retirem o corpo do campo de batalha e o entreguem na Lícia para que receba os ritos fúnebres apropriados.

Inebriado, Pátroclo investe três vezes contra os muros de Tróia e é repelido por Apolo. Na quarta, o deus, terrível, o adverte de que a ele não era dada a glória de tomar a cidade troiana. E nem a Aquiles, muito mais valoroso do que ele. Pátroclo recua, temeroso de incorrer na ira de Apolo. Mas seu destino já está decidido. Sua ousadia será castigada, como lhe advertira Aquiles.

Ao entardecer, Pátroclo investe impetuosamente três vezes contra os troianos. Gabriel Germain, em seu Homère et la Mystique des Nombres, afirma que,

"Na Ilíada, o 3 exprime de modo contínuo (e é o único a fazê-lo) as tentativas de um personagem que, na quarta vez, atingirá seu intento, ou, mais frequentemente, falhará. (...) Pátroclo tenta três vezes atingir a muralha de Tróia. Na quarta tentativa, Apolo o impede. Da mesma forma, após haver lançado-se três vezes sobre os troianos, o herói sucumbe na quarta tentativa."

A morte de Pátroclo exteriormente virá pelas mãos de Heitor. Empenhado em sua quarta investida contra os troianos, Pátroclo é estapeado nos ombros e nas espáduas por Febo Apolo que, em seguida, retira-lhe o elmo, quebra-lhe a lança, faz cair seu escudo e, por fim, o despe de sua couraça. Heitor, percebendo sua fraqueza, finca-lhe a sua lança. Antes de morrer, Pátroclo diz a Heitor, vaticinando, que sua morte pelas mãos de Aquiles também estava próxima.

A ira de Aquiles e sua recusa em voltar aos combates são as causas indiretas da morte de Pátroclo, seu amado companheiro. A recusa das Preces cobra seu preço e, de certa forma, o sacrifício de Pátroclo dará fim à obstinação de Aquiles. E, com isso, aproxima-se o fim da longa campanha aquéia.

A destituição das armas e da armadura de Pátroclo por Apolo indicam simbolicamente a impossibilidade de tomar o lugar de outro homem naquilo que lhe é próprio. Pátroclo não pode ser Aquiles e a tentativa deste de enviar seu companheiro para realizar seu dever termina em desgraça para ambos. De certo modo, há uma usurpação em curso, embora consentida. Caberia a Aquiles e não a Pátroclo restaurar o equilíbrio da balança da guerra.

Para isso, contudo, Aquiles deveria abandonar sua obstinada recusa em juntar-se aos combates. Ainda sob efeito da cólera, Aquiles consente somente em enviar seu amigo em seu lugar, usando suas armas e sua armadura a fim de que os troianos tomassem Pátroclo pelo grande Aquiles. O estratagema funciona em parte, mas Pátroclo é incapaz de controlar seu ardor e esquece a advertência de Aquiles de que não buscasse perseguir os troianos até os muros de sua cidade.

Isto é, o próprio Aquiles estabelece os limites que o separam de Pátroclo. É possível tomar o lugar de um grande herói, mas somente até certo ponto. Tornar-se externamente Aquiles não é o mesmo que ser Aquiles e logo chega o momento em que o limite impõe-se tragicamente para aquele que iludiu-se pensando poder ultrapassá-lo.

Apolo adverte Pátroclo de que nem mesmo ao grande Aquiles, mais valoroso que ele, é dada a glória da tomada de Tróia. Pátroclo, nos muros de Tróia, tenta tomar de assalto a glória que é de outro homem. Os deuses restabelecem os limites intrínsecos das coisas e o condenam à morte por sua desmedida. A semelhança externa com Aquiles é desfeita pela retirada das armas e da armadura e Pátroclo enfrenta o seu destino com as forças que lhe são próprias.