sábado, 6 de junho de 2009

Feyerabend: a impossibilidade de uma teoria da ciência


"Successful research does not obey general standarts; it relies now on one trick, now on another, and the moves that advance it are not always know to the movers. A theory of science that devises standarts and structural elements of all scientific activities and authorizes them by reference to some rationality-theory may impress outsiders - but it is much too crude an instrument for the people on the spot, that is, for scientists facing some concrete research problem. (...) A theory of science is then impossible. All we have is the process of research and, side by side with it, all sorts of rules of thumb which may aid us in our attempt to further the process but which may lead us astray."

PAUL FEYERABEND, Farewell to Reason, p. 281/283


O famoso "princípio" do anything goes não é realmente um princípio. É uma conclusão que, segundo salientava Feyerabend, se impõe a todo racionalista que leve a história da ciência à sério.

O filósofo austríaco, a despeito de sua retórica polemista por vezes agressiva e sempre irônica, levantava problemas epistemológicos sérios e importantes, advindos das posições de Popper, Lakatos e de outros teóricos racionalistas.

Feyerabend afirmava que nenhuma teoria da racionalidade, nenhuma metodologia racionalista, nenhuma norma epistemológica era abrangente o suficiente para dar conta da história da ciência.

Em outras palavras, se tomássemos qualquer uma dessas teorias ou regras epistemo-metodológicas como parâmetro para a análise das práticas científicas do passado e do presente, seríamos obrigados a considerar boa parte das realizações científicas como irracionais.

Teorias e descobertas consideradas hoje como verdadeiras e racionais foram alcançadas justamente graças a cientistas que criticaram ou simplesmente ignoraram solenemente regras metodológicas, leis lógicas, práticas normais de investigação, critérios de verificação que eram, em sua época, tomados como normas racionais por excelência.

O desafio então para o filósofo racionalista seria o de buscar uma teoria da racionalidade e um set de regras metodológicas que fossem amplas o suficiente para abranger os casos acima sem que seu conteúdo normativo pudesse obstruir o progresso científico.

Entretanto, para Feyerabend, nenhuma teoria ou set de normas do passado ou do presente pode dar conta coerentemente de todas as rupturas epistemológicas da ciência reunindo-as sob um conceito único de racionalidade.

Além disso, é mesmo difícil pensar que possa haver alguma teoria que algum dia realize essas exigências, pois não se pode saber, de antemão, quais regras, por mais abrangentes que sejam, terão de ser questionadas e ignoradas para que a ciência progrida.

Assim, asseverava Feyerabend, qualquer conjunto de regras e normas epistemológico-racionais é restritiva demais e pode impedir o progresso do conhecimento, não importando o conceito que se tenha de progresso. Pode-se dizer que, para qualquer progresso, o nível de regras deve ser igual a zero. Dito de outro modo, tudo vale.

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