segunda-feira, 8 de junho de 2009

Origens da ciência na Grécia antiga



Em seu livro Early Greek Science, Geoffrey E. R. Lloyd afirma que, embora não se possa dizer que os primeiros filósofos milésios tenham concebido claramente um método científico o qual pudesse ser aplicado no restrito rol de problemas a que seu pensamento se dedicava, pode-se afirmar com certeza que duas características os distinguiam claramente de seus antecessores gregos ou não-gregos.

A primeira delas Lloyd chama de "a descoberta da natureza". Em outras palavras, seria a concepção de um mundo regido não pelo desejo e pelo arbítrio dos deuses (por vezes tão caprichosos), mas sim por uma constância, de caráter geral e impessoal, regida por relações de causa e efeito.

O exemplo que Lloyd usa para ilustrar sua tese é a teoria de Thales de Mileto sobre os tremores de terra. Segundo o filósofo, a terra, por estar sustentada pelas águas, é afetada pela agitação das mesmas. Embora se possa encontrar referências míticas a Poseidon como causador dos tremores de terra, a teoria de Thales omite totalmente o deus do mar em sua explicação o substituindo por uma relação de causa e efeito entre entes puramente materiais e naturais.

A segunda característica apontada é a discussão crítica das teorias. Segundo Lloyd, os filósofos milésios se dedicavam a conhecer e criticar as teorias de seus contemporâneos. A avaliação dessas teorias passava pela percepção de que estas eram explicações rivais para um determinado fenômeno sob estudo e que se devia encontrar a resposta mais adequada. As teorias eram apreciadas segundo sua força argumentativa e seus possíveis defeitos.

A consciência crítica da rivalidade das teorias estava em contraste com o pensamento mítico que, embora tratando por vezes dos mesmos temas que os filósofos se debruçaram, explica os fênomenos de forma desconectada uns dos outros e por vezes admite, sem problemas, diversas explicações diferentes para um mesmo fenômeno.

Para Lloyd, essas duas descobertas dos primeiros filósofos, a concepção de um mundo regido por leis naturais gerais e a discussão crítica das teorias, marcam o nascimento da filosofia e da ciência na Grécia e são condições necessárias (mas certamente não suficientes) para o progresso dessas atividades.

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