quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Al Ghazali e o ocasionalismo divino


"...our opponent claims that the agent of the burning is the fire exclusively;’ this is a natural, not a voluntary agent, and cannot abstain from what is in its nature when it is brought into contact with a receptive substratum. This we deny, saying: The agent of the burning is God, through His creating the black in the cotton and the disconnexion of its parts, and it is God who made the cotton burn and made it ashes either through the intermediation of angels or without intermediation. For fire is a dead body which has no action, and what is the proof that it is the agent? Indeed, the philosophers have no other proof than the observation of the occurrence of the burning, when there is contact with fire, but observation proves only a simultaneity, not a causation, and, in reality, there is no other cause but God. "

Al Ghazali (1058-1111), filósofo, jurista, médico e místico sufi persa.


O trecho citado é um dos mais famosos do Tahafut Al-Falasifa (A Incoerência dos Filósofos), livro onde Al Ghazali refuta as teses da filosofia grega mostrando sua incoerência. Segundo alguns, o Tahafut marca uma virada na filosofia islâmica na qual o ceticismo sobre o alcance da razão humana e o ocasionalismo divino solapam a possibilidade de um conhecimento científico.

Se as relações de causa e efeito não se dão por força da natureza das coisas envolvidas e sim por um ato de vontade livre de Deus, que poderia fazer exatamente o contrário do que Ele tem feito, então a possibilidade de um conhecimento veraz da natureza sob o prisma humano fica permanentemente afastada.

Assim sendo, ao homem resta a submissão de sua vontade e inteligência a Deus (o significado etimológico de Islam), a obediência aos Seus preceitos e às devoções de sua tarica.

Ao que parece, a obra de Al Ghazali não teve muito impacto no ocidente cristão influenciado pela obra de um outro islâmico, Ibn Rushid (Averróis). Este, por sinal, escreveu o Tahafut al Tahafut (A Incoerência da Incoerência) tentando refutar Al Ghazali.

No ocidente medieval, a especulação filosófica e a defesa da capacidade da razão humana para um conhecimento veraz da natureza foram levadas à frente por São Tomás de Aquino, um admirador confesso de Ibn Rushid, que rejeitou firmemente o ocasionalismo e enfatizou a racionalidade da ação e da obra de Deus sem descuidar de seu aspecto transcendente.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Thomas Kuhn e as ambigüidades da refutabilidade


"O que é exato no que concerne à posição de Sir Karl (...) é a idéia da testabilidade em princípio. (...) O que é vago, no entanto, com respéito à minha posição são os critérios reais (se é isto que se requer) que devem ser aplicados quando se decide que determinada incapacidade de resolução de enigmas (puzzles) há de ser ou não atribuída à teoria fundamental, tornando-se assim uma ocasião de grande preocupação. Essa decisão, contudo, é idêntica em espécie à decisão sobre se o resultado de determinado teste falseia ou não determinada teoria, e sobre esse assunto Sir Karl é necessariamente tão vago quanto eu."

Thomas Kuhn em Reflexões sobre meus críticos, pag.306

Lendo essa passagem de Kuhn, veio-me a vontade de escrever um artigo sobre a problemática do falseamento em Popper, artigo publicado na Alter que transcrevo abaixo em três partes. É interessante notar como os pós-popperianos se mantém, de alguma forma, fiéis à questão da refutabilidade e do falseamento e, aprofundando-se nela, tornam claro suas diversas dificuldades e revelam aspectos da atividade científica não compreendidos por Popper.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Pascal et les pyrrhoniens



"Que fera donc l' homme dans cet état? Doutera-t-il de tout? Doutera-t-il s'il veille, si on le pince, si on le brûle? Doutera-t-il s'il doute? Doutera-t-il s'il est? On n'en peut venir là, et je mets en fait qu'il n'y a jamais eu de pyrrhonien effectif parfait. La nature soutient la raison impuissante et l'empêche d'extravaguer jusqu'à ce point."

BLAISE PASCAL, Pensées, fragment 122