quarta-feira, 25 de junho de 2008

DEAD CAN DANCE



"We made medicine for ourselves and hopefully make medicine for other people. A way out. A way to the familiar..."
LISA GERRARD, 1993



Todas as épocas têm seus clássicos. Obras que combinam em si mesmas a expressão exata da sensibilidade de seu tempo e a porção indefinível do que há no mundo de atemporal e universal. Certamente um dos maiores clássicos dos anos 80 (que nem por isso se tornou um fenômeno comercial de vendas), foi o grupo DEAD CAN DANCE formado por Lisa Gerrard e Brendan Perry. Ele, um músico irlandês e ela, uma australiana nascida numa região onde se misturavam as etnias, as línguas e os sons de imigrantes indianos, árabes, persas e africanos.


Dessas influências, acrescidas da música medieval e renascentista do Ocidente europeu, nasce o estilo do DEAD CAN DANCE. Inicialmente ligado ao darkwave britânico e ao cenário post-punk/gótico (influência nítida no primeiro disco que traz algo da sonoridade opressiva do Joy Division), a dupla, aos poucos, vai se libertando das amarras da estética dark e avança para uma sonoridade verdadeiramente inclassificável que pouco fica à vontade na categoria de world music.


Alguém me disse, ao ouvir DCD pela primeira vez, que o som deles era "New Age demais". Decerto, boa parte das Enyas e afins tiveram sua inspiração no DCD e em bandas como This Mortal Coil e Cocteau Twins (todas da gravadora 4AD por sinal), mas definitivamente DCD não faz música no mesmo espírito água-com-açúcar-para-meditação que caracteriza boa parte desse gênero hoje em dia.


DCD é algo mais profundo. Não é simplesmente música "bonita e relaxante". DCD é uma meditação. Uma meditação sobre a condição humana e sobre as relações entre o humano e o divino, entre o temporal e o eterno. Pode se tornar tanto um canto de júbilo glossolálico na voz maviosa de Lisa como também um tortuoso questionamento existencial nas letras de Perry. Em DCD tudo é perfeitamente humano, até mesmo aquilo que trata do divino.


No cômputo final da década de oitenta, entre outras bandas também imortais, DEAD CAN DANCE certamente ocupa um lugar de destaque por sua qualidade musical, seu experimentalismo e fineza de estilo, mas principalmente por sua inigualável profundidade humana.