quinta-feira, 6 de março de 2008

Da monotonia estéril

O que quero quando argumento? Qual meu objetivo quando, exposta a tese de meu interlocutor, passo a analisá-la, a confrontá-la com teses contrárias, a desfiar o rol de suas conseqüências? Que outra coisa senão o esclarecimento da própria questão e dos requisitos de sua solução? Algo mais se agita na profundidade.

Meu movimento de cerco, aracnídeo, tece com o objetivo de imobilizar. Não há nisso algo de vingativo? “Como pode ele ainda propor teoria? Como pode, despudoradamente expor uma intuição, ter o frescor inocente da confiança?” Então parto para converter o infiel para minha seita de impotência e de cansaço. Conduzo-o, insidiosamente, pelos caminhos da palavra à morte do mutismo.

Faço-o ver que sua confiança inocente é culpada de loucura. É viva demais, indecente. Há que se tornar lúcido, ou seja, morto. Meus argumentos são os instrumentos que uso para proibí-lo de ser outra coisa que não seja eu. No fundo, é o desejo de uma monotonia estéril. É o imperialismo dos impotentes.

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