Alguns posts atrás tratei da relação entre deus e os homens inaugurada pelo cristianismo. Como Voegelin bem assinala, as descobertas dos filósofos gregos apontavam para um relacionamento unilateral entre o homem e o transcendente. São os homens que buscam o transcendente na condição de amantes, ou seja, daqueles que sentem a falta, que têm necessidade, enquanto o divino é perfeito e impassível na sua condição de amado. Isso pode ser dito com segurança tanto de Platão quanto de Aristóteles.
Com o cristianismo vêm a noção do divino que se inclina para o homem por pura gratuidade e amor. Entretanto, ao ler o livro Filosofia e Consciência do filósofo brasileiro Sérgio L. de C. Fernandes, deparei-me com a história budista do iluminado Vipassi que, questionando-se se deveria ensinar seu Dhamma (doutrina), a princípio nega-se a fazê-lo mas que depois de considerar a massa da humanidade e seus sofrimentos volta atrás e passa a ensinar.
Escreve Fernandes: "Como aconteceu séculos mais tarde entre os cristãos, estamos aqui na origem da filosofia oriental, no século VI AC, não como 'amizade' à Sabedoria, mas como Sabedoria perturbada pela Compaixão. Sendo a Sabedoria, por definição, imperturbável, sua perturbação pela compaixão - como, no cristianismo, pelo Amor - é um misterium tremendum."
A isto os budistas chamam Mahakaruna, a grande compaixão. Eis um ponto de contato interessante para ser estudado e explorado. Como pode o Imperturbável perturbar-se por compaixão dos sofrimentos dos homens?
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