terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Do amor

O amor aparece em Platão como falta, ausência e incompletude. Só ama aquele que sente-se incompleto. O filósofo ama a sabedoria justamente porque esta lhe é alheia. Se fosse sábio, não buscaria a sabedoria por já possuí-la. Entretanto, o filósofo não é o ignorante que não busca a sabedoria justamente porque a ignora. O filósofo, como Eros, é filho da penúria e da astúcia. Se não tem o que lhe faz falta, sabe no entanto o que lhe faz falta. Oscila sempre entre a pobreza e a opulência.

Em Aristóteles o cosmos tende à extaticidade do Motor Imóvel divino. Ele em nada interfere ou toma conhecimento. Ele é a causa final, o telos, o objetivo e a perfeição. E Aristóteles diz que o motor Imóvel move as coisas na qualidade de amado, ou seja, todas as coisas se movem por amor a ele, para alcançá-lo.

Se o amor é falta, como pode o completo, o sem-falta, amar? Como pode ele se compadecer? Bernardo de Clairvaux dizia que Deus não pode padecer, mas pode compadecer-se. Como, se compadecer-se é padecer junto?

O amor é uma das marcas distintivas do homem, pois é a expressão mesma de sua finitude e de sua incompletude. Só ama aquele que sente falta. Mas o amor a alguém em particular não é trair a busca principal do homem que é aquela pelo absoluto? O amor por alguém ou por algo neste mundo finito não é um sucedânio imperfeito, passageiro e ilusório daquilo que realmente sentimos falta: a completude absoluta, Deus?

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu simplesmente adoro o que escreves! Estou sempre lendo suas postagens e ja compartilhei varias delas pelo link do facebook ao final de suas postagens! Espero que nunca pares de escrever seus pensamentos e percepcoes!

R. Oleniski disse...

Muito obrigado! Fico muito feliz em saber que o que escrevo é apreciado sinceramente.

Também espero não deixar de escrever.

Abraços cordiais!

Anônimo disse...

Amor e eternidade, por Karl Jaspers

''Não está no mundo a origem do amor. É experimentado como algo incompreensível que avassala o homem, mas de tal forma que o faz autenticamente homem. Os realistas negam o amor, sob pretexto de que não é possível determinar-lhe a existência empírica. Não é objeto de ciência. Como toma consciência de si com a consciência de que brota de alhures, denominamo-lo amor metafísico. Ninguém pode saber se ele existe e se é real entre dois seres humanos.

Esse amor se projeta no tempo como o clarão de um relâmpago que ninguém percebe. Mas, para os que foram atingidos, revela-se o que existia desde a eternidade. É histórico o amor enquanto fenômeno, mas sua história essencial não reside no tempo.

Esse amor, consciente de ser uma presença da eternidade, altera a forma externa de sua realidade fundamentalmente imutável, na medida em que são percorridos os estágios da vida.

Na juventude, diante de Eros, manifesta-se a timidez. O tesouro insubstituível não deve ser dissipado enquanto não puder ser verdadeiramente gozado no encontro de dois seres que se reconhecem criados um para o outro desde a eternidade, e que, por esse amor, primeiro e último, são um fato único na História. Disso ambos têm consciência sem saber. Sentindo-se com inteira liberdade, sentem-se ligados de forma total e cada qual parece ter encontrado o outro antes do início dos tempos.

(…)

Paixão é ligação a uma experiência – vem e vai. O amor abriga o sentido profundo do 'sempre' e do 'para sempre'. Só se manifesta uma vez na vida e não se repete. A paixão é cega quanto ao essencial; o amor é clarividente em relação a tudo''. (Introdução ao pensamento filosófico)