domingo, 26 de julho de 2009

Aristóteles, Sankara e a natureza de um vaso de barro





Aristóteles afirmava que no estudo de qualquer objeto, natural ou artificial, o conhecimento se encontrava no conhecimento da causa. Na Física ele afirma: "Conhecimento é o objeto de nossa investigação, e os homens não pensam haver conhecido algo até que tenham encontrado o "porquê" dela."(II,3)

Todo objeto tem diversas causas assim como uma palavra tem diversos sentidos. No conhecimento de um vaso, podemos distinguir sua causa material (do que ele é feito), sua causa eficiente (a arte do artesão que moldou o barro), a causa formal (a essência ou forma da coisa) e a causa final (a finalidade da coisa).

Os três últimos sentidos de causa podem ser considerados como coincidentes (II,7), formando com a causa material um conjunto que, para Aristóteles, fornece ao pesquisador um conhecimento completo de cada objeto.

Entretanto, a matéria é mutável, moldável e passageira, enquanto a essência é a causa principal de cada objeto na ordem do ser. Um vaso pode ser de barro ou de metal, mas o que determina o que ele é, vaso, é sua essência, sua Forma. Esta é a causa formal, final e eficiente que, no caso de artefatos, é impressa no material pelo artífice e no caso dos seres naturais, é a força que age por dentro do organismo e o leva da potencialidade à atualização.

Para Aristóteles conhecer a forma é conhecer verdadeiramente, conhecer o real.

Para Sankaracarya, o sábio hindu, nada poderia ser mais contrário à verdade. Para ele, nada do que é forma é real. Em seu comentário ao verso 16 do segundo discurso do Bhagavad Gita ele diz: "(...) nenhuma forma objetiva, tal como um vaso de terra, apresentada à consciência pelos olhos, prova ser real, pois não pode ser percebida separada da argila. Assim, todo efeito é irreal, pois não é percebido como distinto de sua causa. Todo efeito, tal como o vaso, é irreal porque não é percebido antes de sua produção e depois de sua destruição."

O vaso é o efeito transitório e sem constituição autônoma de uma causa material que é real (no seu sentido mais próprio) e permanente. "Toda mudança é passageira", nos diz Sankara no mesmo parágrafo. O substrato é o real e a forma a ilusão que nasce e morre sem que aquele seja atingido.

De forma análoga, as formas de namarupa, o mundo manifestado, não são mais reais que a forma momentânea de um vaso de terra. Nascem e morrem, não sendo Brahman Nirguna jamais afetado por tais modificações. Sendo a terra da qual os vasos são feitos, permanece o mesmo quando eles se quebram e jamais pode estar totalmente contido em algum deles.

O que é então mais real, o que tem a primazia de realizar mais adequadamente o sentido mais próprio do termo "real"? Penso que na diferença desses pensamentos algo de muito importante e essencial se revela. Talvez aqui se mostrem os traços distintivos de uma opção fundamental que creio haver determinado radicalmente o curso posterior da história do Ocidente e do Oriente.

2 comentários:

Federico Ferreira disse...

aristoteles es unos de mis filosofos preferidos.. me gusta su modo de ver las cosas.. espero que pases por mi blog y puedas leer un articulo y pudas contarme que te parece.. ya que apreciaria tu enfoque filosofico.

Anônimo disse...

obrigado, me salvou num trabalho de filosofia hahaha