"In physics sense and experience which reach only to apparent effects hold sway; in mechanics the abstract notions of the mathematicians are admitted. In first philosophy or metaphysics we are concerned with incorporeal things, with causes, truth, and the existence of things. The physicist studies the series or successions of sensible things, noting by what laws they are connected, and in what order, what precedes as cause, and what follows as effect. And on this method we say that the body in motion is the cause of motion in the other, and impresses motion on it, draws it also or impels it. In this sense second corporeal causes ought to be understood, no account being taken of the actual seat of the forces or of the active powers or of the real cause in which they are."
GEORGE BERKELEY, De Motu, 1721
O bispo anglicano George Berkeley, em sua obra De Motu defende que a física nada pode dizer da natureza última dos objetos de seus estudos, devendo se ater somente a uma descrição matemática adequada ao comportamento observável dos corpos. Escrevendo sob o impacto ainda recente dos Principia (1687) de Isaac Newton, o pensador religioso tenta mostrar que idéias como força ou impetus não passam de abstrações que nada esclarecem nem explicam.
Como pode uma qualidade oculta como a força explicar o movimento? Ou mesmo a gravidade, considerada como força atrativa, como pode ela explicar a queda dos corpos? Apelar para o caráter oculto de uma qualidade não-observável é tentar explicar o inexplicado pelo inexplicável.
O que todos vêem, por exemplo, é que corpos caem na direção do solo. Isso pode ser adequadamente descrito em termos matemáticos. Entretanto, que a causa real e verdadeira seja a gravidade, isso jamais ninguém saberá, pois enquanto qualidade oculta, a gravidade não pode ser observada.
Segundo Berkeley, na física "a verdade e o uso dos teoremas sobre a atração mútua dos corpos permanece firme, uma vez fundados sobre o movimento (observável) dos corpos, seja na suposição do movimento ser causado pela atração de um corpo pelo outro, seja na suposição de algum agente diferente dos corpos impelindo-os ou controlando-os." Em ambos os casos, embora diferentes naturezas sejam postuladas na teoria, os resultados matemáticos permanecem os mesmos e concordantes com a experiência.
À física pertence somente determinar as leis observáveis do movimento sem jamais tocar no problema da real causa eficiente dos fenômenos. As entidades que as teorias postulam não passam de termos abstratos que nada dizem sobre a natureza do movimento, uma vez que das coisas corpóreas, nada captamos a não ser qualidades sensíveis.
Assim, Berkeley defende três regras para a física: (1) distinguir hipóteses matemáticas da natureza real das coisas; (2) afastar-se das abstrações; (3) considerar o movimento como algo sensível e contentar-se com medições relativas. Desse modo, segundo o bispo, todos os teoremas da mecânica permanecerão intocados e o estudo do movimento será libertado de milhares de minúcias, sutilezas e idéias abstratas inúteis.