Selo algeriano comemorativo em homenagem a Ibn Sina
"Toda ciência comporta um objeto do qual se busca conhecer o estado por meio de tal ciência." IBN SINA, Danesh Name Alai
O sábio persa Abu 'Ali Hussein Ibn Sina (Avicena entre os ocidentais) dividiu sua obra monumental Danesh Name Alai (O Livro da Ciência) em diversos tratados sobre Lógica, Metafísica, Física e Matemática (Geometria, Astronomia, Aritmética e Música).
No tratado de Metafísica, Ibn Sina apresenta uma divisão das ciências baseada em seus objetos respectivos. Em primeiro lugar, as ciências são divididas em dois grupos: aquelas cujo objeto depende de nós e aquelas cujo objeto não depende de nós.
O primeiro grupo trata de nossas ações - pois estas dependem de nós - e são denominadas ciências práticas. O segundo grupo é constituído por aquelas ciências cujo objeto tem em si mesmo a necessidade de suas operações e que, por isso, não dependem de nós para realizar o que podem realizar. Denominam-se tais ciências de ciências especulativas.
As ciências práticas são divididas, por sua vez, em três ciências:
1) A organização geral dos homens, a política, tendo como princípio o conhecimento das leis religiosas, a Shariah;
2) A economia;
3) A ciência de si mesmo, ou, em termos aristotélicos, a Ética.
As ciências especulativas - chamadas teoréticas por Aristóteles - também são divididas em três:
1) A ciência superior, de tudo aquilo que está acima da natureza;
2) A ciência intermediária, denominada matemática;
3) A ciência inferior, aquela da natureza.
A primeira - a Filosofia Primeira ou Metafísica - não se dedica à matéria das coisas sensíveis, nem ao movimento delas, mas concebe aquilo que nelas é possível ser concebido abstraindo-se tudo aquilo que é sensível: inteligência, ser, unidade, causalidade, etc.
Logo depois vêm as matemáticas, cujo objeto, embora seja separado das coisas sensíveis e de seu movimento, pode ser concebido como subsistente em si mesmo, pois não há necessidade de ligá-los a uma matéria sensível. Dessa forma, a triangularidade, o quadrado, o oblongo e outros objetos do mesmo gênero não precisam, como a "humanidade", de uma matéria dada. É possível tanto defini-los sem referência a nenhuma matéria quanto imaginá-los (no sentido de concebê-los) sem matéria alguma.
A terceira ciência tem como objeto aquilo cuja existência está ligada à matéria, que só pode ser definido fazendo referencia à matéria e que está em movimento. Aristóteles a denominava Física. Das três ciências esta é mais acessível ao homem e à sua apreensão. Mas como seu objeto é o ente móvel, a confusão e a dificuldade aí são maiores.
Já na matemática reina maior certeza, uma vez que seu objeto é a quantidade (discreta: número /extensa: medida), ou seja, algo abstraído do movimento e da mudança dos entes sensíveis. Dela fazem parte a Geometria, a Aritmética, a Astronomia, a Música, a Ótica, a Mecânica, a ciência das esferas móveis, a ciência dos instrumentos de observação e outras ciências análogas.
Já na matemática reina maior certeza, uma vez que seu objeto é a quantidade (discreta: número /extensa: medida), ou seja, algo abstraído do movimento e da mudança dos entes sensíveis. Dela fazem parte a Geometria, a Aritmética, a Astronomia, a Música, a Ótica, a Mecânica, a ciência das esferas móveis, a ciência dos instrumentos de observação e outras ciências análogas.
A ciência superior, no entanto, ultrapassa a ambas pela nobreza de seu objeto: o ser absoluto enquanto ser absoluto. Ela trata daquilo que é inerente ao ser enquanto ele mesmo.
Por exemplo, ser par ou ímpar, esférico ou triangular não faz parte dos objetos dessa ciência. Para ser par ou ímpar é preciso ser antes número, assim como para ser triangular ou esférico é preciso antes ser uma grandeza. Ser branco ou negro também não faz parte dos objetos dessa ciência, pois tais opostos são acidentes cambiáveis em corpos em mudança.
Mas, então, quais os objetos de tão alta ciência? Ibn Sina responde:
"(...) os estados de universal e de particular, de potência e de ato, de possível e de necessário, de causalidade, de substância e de acidente [para o ser] lhe advém do fato de que é ser enquanto ser e não do fato de que é quantidade ou de que é susceptível ao movimento; o mesmo se dá com a unidade e a pluralidade, a alteridade e a identidade e outros estados análogos. (...) O conhecimento do Criador de todas as coisas, , de sua unidade, da dependência de todas as coisas com relação a Ele faz parte dessa ciência. A seção dessa ciência que concerne à unidade divina é nomeada 'ciência divina' ou ainda 'ciência da soberania divina'. Os princípios de todas as ciências se verificam nessa ciência."
Embora a ciência superior só seja aprendida em último lugar, na ordem da realidade ela ocupa o primeiro lugar. De fato, no Danesh Name Alai, Ibn Sina a ensina antes do que as outras ciências particulares.
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