Samurai Assassin (1965), dirigido por Kihachi Okamoto, apresenta uma história de fundo histórico com contornos trágicos. Em 1860, pouco antes da Restauração Meiji, um grupo de conspiradores reúne-se em frente à saída do portão Sakurada do castelo Edo. Seu objetivo é assassinar Ii Naosuke, daimyo de Hikone, braço direito do shogunato Tokugawa. O motivo da conspiração é a insatisfação com a escolha do Shogun, influenciada por Naosuke e a posterior Purga de Ansei, ordenada por ele para calar os descontentes.
Sabendo dos hábitos de Naosuke, os conspiradores aguardam por sua saída para atacá-lo em uma emboscada. Naosuke, entretanto, não sai do castelo Endo e a frustração do plano dos conspiradores desperta em seus líderes, em especial Kenmotsu Hoshino, a desconfiança de que há traidores entre eles. Uma investigação é iniciada e as suspeitas recaem sobre dois forasteiros, Tsuruchyio Niiro e Einosuke Kurihara.
Hoshino, líder dos conspiradores, deseja saber os motivos dos dois suspeitos para juntarem-se à conspiração. Tsuruchyio Niiro (interpretado pelo grande Toshiro Mifune) é um ronin pobre e inclinado aos excessos da bebida e das mulheres. Aparentemente, seu motivo é o anseio de conquistar uma posição como samurai. Einosuke Kurihara é um ex-servo de um importante daimyo que largou tudo para dedicar-se somente aos estudos e à arte da espada. Sua motivação parece vir de uma certa visão universalista do bem-estar humano haurida na leitura de filósofos ocidentais.
Os dois tornaram-se bons amigos após um combate de kendo, onde mostraram-se tão habilidosos um contra o outro que ambos reconheceram o empate e a equivalência de seus talentos na esgrima. Embora amigos, eles têm vidas bem diferentes. Einosuke vive bem, é abastado e casado com uma mulher de posição, enquanto Niiro é paupérrimo e vive de pequenos serviços.
Niiro, no entanto, sem o saber, é filho bastardo de um nobre importante e sua mãe recusa-se a revelar a sua identidade. Seu único contato com seu passado, após a morte de sua mãe cinco anos antes, é um comerciante, Masagoro Kisoya, que pagou seus estudos e que, eventualmente, paga seus excessos. Kisoya sabe a identidade do pai de Niiro, mas prometera à mãe jamais revelá-la.
Mais à frente, descobre-se o motivo pelo qual Niiro tornou-se um "cão vadio", como ele mesmo afirma, e o motivo de desejar tanto ser um samurai a ponto de juntar-se à uma conspiração de assassinato. Quando jovem, Niiro apaixonou-se por uma moça de alta estirpe e pediu-a em casamento. O pai, contudo, recusou-lhe a mão, pois Niiro não era de família nobre, mas sim um bastardo filho de uma concubina. Ele só daria a mão da filha se Niiro pudesse provar a ascendência nobre de seu pai.
Kisoya e a mãe de Niiro recusam-se a revelar-lhe a identidade de seu pai, destruindo assim as suas possibilidades de casamento. Niiro, amargurado e revoltado, entrega-se aos excessos da bebida e das mulheres e, como resultado de seu comportamento descontrolado, é expulso do dojo onde praticava kendo. Decide, então, tornar-se um ronin.
Depois de tantos anos de pobreza e de descaminhos, Niiro quer, de novo, ser um samurai. A conspiração de Hoshino é sua grande chance. Mas o preço a pagar será alto. Uma ligação fortuita de seu amigo Kurihara com alguém próximo ao daimyo Ii Naosuke, lança sobre Kurihara a certeza de que ele é o traidor. Hoshino, então, ordena a Niiro que o mate, já que ele é o único que pode equiparar-se a Kurihara em habilidade no uso da espada.
Niiro, mesmo sabendo que Kurihara é seu amigo e que sempre o tratou com estima e deferência, deixa seu desejo de ser samurai falar mais alto que a amizade e embosca Kurihara, matando-o. No entanto, para sua desgraça, logo depois, Hoshino encontra o verdadeiro traidor, mata-o e queima todos os registros de sua participação no grupo. Kurihara, afinal, era inocente e Niiro matara injustamente seu único e verdadeiro amigo por nada.
Os planos dos conspiradores seguem e Hoshino, um dia antes da data marcada da nova tentativa de assassinato de Ii Naosuke, envia homens para assassinar Niiro. Este, contudo, mata todos eles e segue para o locar combinado. Kisoya, o mercador amigo da mãe de Niiro fica sabendo indiretamente da participação de Niiro na conspiração e, desesperado, procura-o para impedí-lo.
O desespero de Kisoya justifica-se. Niiro não sabe, mas é o filho bastardo de Ii Naosuke, o alvo dos conspiradores. Sem querer, ele cometerá parricídio. Kisoya não consegue encontrar Niiro e este parte célere para o local combinado com o resto dos conspiradores.
Enfim, na hora marcada, Ii Naosuke sai do castelo Endo com sua comitiva. Os conspiradores os atacam. Após luta renhida, Niiro consegue alcançar Ii Naosuke e o decapita. Niiro não sabe, mas Hoshino também queimou todos os seus registros no grupo, de modo que ninguém saberá do seu feito e nenhum posto de samurai ser-lhe-á concedido.
E mais. Como Ii Naosuke prevê em seus últimos instantes de vida, aquele assassinato enfraquecerá o shogunato e dará um fim a era dos samurais. Ignorante de tudo isso, Niike segue na neve exibindo a cabeça de Ii Naosuke fincada em sua espada.
A história de Niiro tem alguns traços da tragédia de Édipo, pois ele mata seu pai sem o saber, apesar de não casar com a própria mãe, como no mito grego. Todavia, Ii Naosuke não assume seu filho, abandona-o, afasta-o, entrega-o a outros e, por fim, considera que ele está morto. Mas as Moiras fazem com que o filho acabe participando do assassínio de seu próprio pai.
Em alguma medida, está em ação uma justiça trágica, já que o rejeitado ataca o coração da autoridade temporal que sustenta todas as convenções que o condenam à sua vida miserável. Mas isso não acontece pela ação consciente do rejeitado contra a autoridade, tomada deliberadamente como alvo de sua revolta. Isso acontece como consequência do pecado pessoal, da ação injusta da autoridade que resulta em um castigo acidental.
Niiro, contudo, não é exatamente a vítima inocente das injustiças da comunidade humana. Ele escolhe tornar-se um ronin e abandonar-se aos vícios. E, quando a oportunidade aparece, Niiro não se furta a matar seu único amigo verdadeiro a fim de tornar-se um samurai. Ele escolhe cometer injustiças em nome da ambição e da posição social. Embora, em certo sentido, seja inocente da morte do pai, ele não o é da morte de Kurihara.
Há algo de ingênuo e até mesmo de imaturo em Niiro. É o beberrão que, com suas extravagâncias, foge das convenções sociais. É também o homem que, sóbrio, é capaz de matar para mantê-las e beneficiar-se delas. Confusão e contradição encontram-se nos atos de Niiro.
Se, em suas últimas palavras, Ii Naosuke tinha razão em afirmar que seu assassinato teria como efeito não o fortalecimento, mas o fim do shogunato, então, simbolicamente, os atos, as motivações e as personalidades de Niiro e dos conspiradores representam as forças desagregadoras que moviam-se no interior daquela instituição e que a conduziram à queda.
Depois de tantos anos de pobreza e de descaminhos, Niiro quer, de novo, ser um samurai. A conspiração de Hoshino é sua grande chance. Mas o preço a pagar será alto. Uma ligação fortuita de seu amigo Kurihara com alguém próximo ao daimyo Ii Naosuke, lança sobre Kurihara a certeza de que ele é o traidor. Hoshino, então, ordena a Niiro que o mate, já que ele é o único que pode equiparar-se a Kurihara em habilidade no uso da espada.
Niiro, mesmo sabendo que Kurihara é seu amigo e que sempre o tratou com estima e deferência, deixa seu desejo de ser samurai falar mais alto que a amizade e embosca Kurihara, matando-o. No entanto, para sua desgraça, logo depois, Hoshino encontra o verdadeiro traidor, mata-o e queima todos os registros de sua participação no grupo. Kurihara, afinal, era inocente e Niiro matara injustamente seu único e verdadeiro amigo por nada.
Os planos dos conspiradores seguem e Hoshino, um dia antes da data marcada da nova tentativa de assassinato de Ii Naosuke, envia homens para assassinar Niiro. Este, contudo, mata todos eles e segue para o locar combinado. Kisoya, o mercador amigo da mãe de Niiro fica sabendo indiretamente da participação de Niiro na conspiração e, desesperado, procura-o para impedí-lo.
O desespero de Kisoya justifica-se. Niiro não sabe, mas é o filho bastardo de Ii Naosuke, o alvo dos conspiradores. Sem querer, ele cometerá parricídio. Kisoya não consegue encontrar Niiro e este parte célere para o local combinado com o resto dos conspiradores.
Enfim, na hora marcada, Ii Naosuke sai do castelo Endo com sua comitiva. Os conspiradores os atacam. Após luta renhida, Niiro consegue alcançar Ii Naosuke e o decapita. Niiro não sabe, mas Hoshino também queimou todos os seus registros no grupo, de modo que ninguém saberá do seu feito e nenhum posto de samurai ser-lhe-á concedido.
E mais. Como Ii Naosuke prevê em seus últimos instantes de vida, aquele assassinato enfraquecerá o shogunato e dará um fim a era dos samurais. Ignorante de tudo isso, Niike segue na neve exibindo a cabeça de Ii Naosuke fincada em sua espada.
A história de Niiro tem alguns traços da tragédia de Édipo, pois ele mata seu pai sem o saber, apesar de não casar com a própria mãe, como no mito grego. Todavia, Ii Naosuke não assume seu filho, abandona-o, afasta-o, entrega-o a outros e, por fim, considera que ele está morto. Mas as Moiras fazem com que o filho acabe participando do assassínio de seu próprio pai.
Em alguma medida, está em ação uma justiça trágica, já que o rejeitado ataca o coração da autoridade temporal que sustenta todas as convenções que o condenam à sua vida miserável. Mas isso não acontece pela ação consciente do rejeitado contra a autoridade, tomada deliberadamente como alvo de sua revolta. Isso acontece como consequência do pecado pessoal, da ação injusta da autoridade que resulta em um castigo acidental.
Niiro, contudo, não é exatamente a vítima inocente das injustiças da comunidade humana. Ele escolhe tornar-se um ronin e abandonar-se aos vícios. E, quando a oportunidade aparece, Niiro não se furta a matar seu único amigo verdadeiro a fim de tornar-se um samurai. Ele escolhe cometer injustiças em nome da ambição e da posição social. Embora, em certo sentido, seja inocente da morte do pai, ele não o é da morte de Kurihara.
Há algo de ingênuo e até mesmo de imaturo em Niiro. É o beberrão que, com suas extravagâncias, foge das convenções sociais. É também o homem que, sóbrio, é capaz de matar para mantê-las e beneficiar-se delas. Confusão e contradição encontram-se nos atos de Niiro.
Se, em suas últimas palavras, Ii Naosuke tinha razão em afirmar que seu assassinato teria como efeito não o fortalecimento, mas o fim do shogunato, então, simbolicamente, os atos, as motivações e as personalidades de Niiro e dos conspiradores representam as forças desagregadoras que moviam-se no interior daquela instituição e que a conduziram à queda.