sexta-feira, 10 de abril de 2009

The road to irrationalism?


Existe uma grande diferença entre as intenções de um filósofo e as consequências de suas idéias e teorias. Um dos exemplos mais patentes dessa verdade no século passado foi aquele das obras epistemológicas de Sir Karl Popper. Inúmeras vezes o filósofo austro-britânico manifestou sua intenção de, com sua metodologia falseabilista, salvar a racionalidade científica e, através disso, os fundamentos da sociedade liberal.

Entretanto, muitos já defenderam que o falseabilismo abriu as portas para o irracionalismo na epistemologia. E as raízes dese mal já estavam na teoria apresentada por Popper em seu livro The Logic of Scientific Discovery. O filósofo defendia que as evidências empíricas usadas para testar as predições logicamente deduzidas de uma teoria eram fornecidas por aparelhos e técnicas baseadas elas mesmas em teorias cuja verdade não se poderia verificar logicamente por meios indutivos.

Assim, ao aceitar uma evidência empírica que refutaria a predição de uma teoria determinada, o cientista estaria aceitando-a somente como uma convenção que poderia ser revista a qualquer momento. Assim, a força do falseamento se resumiria a um convencionalismo acerca da base empírica.

Ora, se assim era, o que impediria um cientista de, frente à uma refutação de suas predições, recusar a acuidade das evidências empírico-experimentais e adotar a hipótese ad hoc de que esses resultados refutadores estariam errados? Um movimento assim imunizaria uma teoria e a tornaria irrefutável.

Imre Lakatos, ciente desse fato, afirmava que, no limite, toda teoria científica era metafísica, ou seja, "irrefutável empiricamente" no jargão popperiano. Lakatos percebeu que todas as teorias estão às voltas com refutações desde seu início. O que os cientistas fazem é tentar salvar a teoria com hipóteses ad hoc sucessivas que formam um programa de pesquisas. Essas hipóteses podem ser progressivas se predisserem novos fatos ou degenerativas se não o fizerem.

Um programa de pesquisa será avaliado segundo a progressividade dessas hipóteses. Contudo, essa avaliação nunca será definitiva, pois um programa de pesquisas pode a qualquer momento voltar a progredir. Assim sendo, o cientista que abandona um programa estagnado por um outro progressivo é tão racional quanto um outro que se apega a um programa considerado já morto e espera que no futuro ele volte a progredir.

Será Feyerabend que mostrará que se não há uma refutação definitiva para os programas de pesquisa e que qualquer avaliação da situação de um programa é sempre temporalmente limitada, então não há motivo racional para exigir o abandono de uma teoria que tenha contra si uma gama imensa de evidências refutadoras.

Qual seria a lição dessa história senão o "anything goes"? Adotar e propor teorias refutadas teria tanto amparo racional quanto rejeitá-las e abandoná-las. Para muitos, essa perturbadora equivalência não seria outra coisa senão irracionalismo.

2 comentários:

Lukas Rybensen disse...

Interesante post. Me pregunto si el tan denostado pragmatismo no sería útil para zanjar esta cuestión. Las teorías serían válidas en tanto que permiten una explicación útil para la praxis. Podrían ser desplazadas por otra teoría siempre y cuando esa tenga una utilidad mayor que la anterior.

Un saludo y perdón por no escribir en portugués.

R. Oleniski disse...

Olá Luc! Obrigado pelo comentário!

Certamente a perspectiva pragmática sempre aparece como uma solução para esses problemas epistemológicos. Nessa linha de pensamento há a interessante obra de Larry Laudan, fortemente influenciado por Lakatos.

Laudan pretende construir um modelo de progresso científico centrado na idéia de tradições de pesquisa que têm ontologias e metodologias próprias que são ilustradas pelas teorias particulares que a compõem.

O critério de avaliação dessas tradições seria a simples "effectiveness", eficácia em resolver problemas conceituais e empíricos.

Abraços!