quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Filosofia é desentocamento?

" Tudo é fonte. Nada é autoridade."
SIR KARL POPPER



Existe um projeto em filosofia que consiste em afirmar que o processo filosófico é um despertar crítico para o que "está por trás" dos discursos proclamados no cotidiano. Ou seja, a filosofia serviria simplesmente para revelar a mentira através da identificação dos interesses daquele que pretende propor algum tipo de verdade.

Não se pode negar que, de fato, interesses existem por trás de qualquer tese. Mas interesses não são ruins por serem interesses. Há quem se interesse pela verdade, pelo bem-estar do próximo,etc...E há quem se interesse pela destruição do bem, pela anuência dos trouxas, etc...

O problema é quando a crítica passa de análise de argumentos para investigação de origens. Explico: o problema é quando deixo de me preocupar em analisar se o argumento de meu interlocutor é válido, se ele de fato está dizendo algo plausível ou mesmo verdadeiro, e ao invés disso, procuro saber se ele é de direita ou de esquerda, cristão ou ateu, brasileiro ou estrangeiro. Ou seja, quando eu me preocupo com a origem daquele que argumenta.

Há muito que a filosofia tem sido vista sob esse prisma desastroso. E nisso, há interesses sim. E funestos. Ao incentivar a crítica, não a partir de argumentos, mas a partir das origens de meu interlocutor ( sejam elas políticas, étnicas, religiosas, etc...) o que se faz é um movimento de desvio. A atenção é desviada da discussão teórica dos argumentos para a pesquisa biográfica de meu interlocutor.

E isso é um movimento de mão dupla. Se meu interlocutor não merece ser ouvido pelo fato de pertencer a um partido oposto ao meu, a outro credo religioso, ou por qualquer motivo imaginável, por outro lado, qualquer um que espose as idéias de minha seita, ainda que seja uma besta, acaba se tornando uma autoridade incontestável.

Por exemplo, a filosofia que querem ensinar nas escolas não passa, freqüentemente, de propaganda partidária e de catalisador de ressentimentos de classe. Ao aluno é ensinado que, desde sempre, ele é um injustiçado e que há poderes ocultos que conspiram para esconder a verdade.

Desde sempre ele é um traído e o professor de filosofia é o "cara legal" que vai ensinar o aluno a desentocar a verdade, a entender o "que está por trás " de tudo o que ele ouve por aí. " Desconfie de X, Y e Z...não leia esses caras...eles estão do lado de A, B e C que querem que você não saiba disso tudo que só os partidos P e T te mostram."

O passo seguinte, logicamente, é dividir as fontes de informação entre as ideologicamente contaminadas e aquelas que estão do lado do "bem", fiéis, imparciais e objetivas. As fontes tendenciosas serão, é claro, as opositoras. As boas serão as aliadas.
Todos trabalham a partir de premissas. Não há como fugir. O trabalho da crítica é analisar essas premissas e os argumentos que são construídos a partir delas e descobrir qual o grau de evidência dessas premissas, quais suas conseqüências, se elas são validamente deduzidas, etc...
A biografia de meu oponente pode ser interessante, mas não pode se tornar uma cortina de fumaça para escoder fragilidade argumentativa e proteger propaganda ideológica.

Um comentário:

Anônimo disse...

num entendi. faz um desnho p facilitar.