"O Zen não pode ser contido em um conceito ou alcançado pelo pensamento. Precisa ser praticado. é, essencialmente, uma experiência. (...) Trata-se de alcançar, pela prática, a superação de todas as contradições, de todas as formas de pensamento."
TAISEN DESHIMARU, La Pratique du Zen, p.26 (tradução minha do original em francês)
"Aprender o Zen é encontrar a nós mesmos,
Encontrar a nós mesmos é esquecer de nós mesmos,
Esquecer de nós mesmos é encontrar a Natureza de Buddha,
Nossa natureza original."
EIHEI DOGEN, apud TAISEN DESHIMARU, La Pratique du Zen, p.27
"Aprender o Zen é encontrar a nós mesmos,
Encontrar a nós mesmos é esquecer de nós mesmos,
Esquecer de nós mesmos é encontrar a Natureza de Buddha,
Nossa natureza original."
EIHEI DOGEN, apud TAISEN DESHIMARU, La Pratique du Zen, p.27
O mestre zen japonês Taisen Deshimaru (1914-1982), em seu livro La Pratique du Zen, a fim de esclarecer a essência do Zen budismo, conta uma significativa histórica da vida do patriarca japonês Eihi Dogen (1200-1253). Segundo Deshimaru, Dogen, aos vinte e quatro anos, viajara à China em busca das fontes originárias do Chan (Zen). Encontrara naquelas terras uma grande civilização, porém não o que buscava.
Quando já estava prestes a partir de volta ao Japão, Dogen encontra um monge muito idoso colocando cogumelos para secar em um dia calorento de verão. O jovem monge então pergunta ao idoso por qual razão estava ele fazendo aquele trabalho em um dia tão quente, dado que, sendo idoso, poderia solicitar aos monges mais novos que cumprissem aquela tarefa. Ademais, não seria melhor esperar um dia mais ameno para realizar tal trabalho?
O monge idoso respondeu dizendo que Dogen viera do Japão à China em busca do Zen e que parecia ser um bom jovem. No entanto, embora conhecesse o budismo, nada sabia acerca da essência do Zen. "Um outro não sou eu e eu não sou um outro. Um outro não pode fazer a experiência de minha ação. Se não pratico por mim mesmo, não posso compreender.", disse o ancião.
Surpreso com a resposta, Dogen indaga o monge por qual razão fazia aquele trabalho naquele dia tão quente. "Aqui e agora é muito importante", responde o monge. "Para secar os cogumelos, é mister que o dia esteja seco e quente. No dia seguinte pode chover e os cogumelos não estarão mais tão frescos. Não me atrapalhe mais. Se quiser conhecer o verdadeiro Zen, vá ver meu mestre, mestre Nyojo."
Dogen obedeceu, procurou o mestre Nyojo e este educou-o no Zen. Dogen aprendeu o verdadeiro Zen na prática do zazen, a meditação, e recebeu a permissão de seu mestre para ensinar quando retornasse ao Japão. Segundo Deshimaru, toda a filosofia de Dogen resume-se a três fundamentos:
1. Concentrar-se no aqui e agora;
2. O outro não sou eu e eu não sou o outro;
3. Shikantaza: simplesmente sentar-se (em zazen).
Em uma passagem anterior, Taisen Deshimaru explica que "aqui e agora" significa que somente o presente importa. O passado e o futuro não existem, só o agora. É necessário estar presente inteiramente em cada um de nossos gestos, atos, palavras e pensamentos. Concentrar-se aqui e agora é o ensinamento do Zen.
A atenção a cada movimento e a cada gesto, Deshimaru ensina, evidencia-se, por exemplo, na esgrima japonesa (no kendo, no iaido, mas também nas artes marciais em geral) na postura de zanshin. "O zanshin é o espírito que permanece, sem apego, a mente que permanece vigilante. Cuida-se da ação e permanece-se atento ao que pode acontecer a seguir", define Deshimaru. Em suma, é estar atento ao próximo movimento do adversário.
A mesma postura, todavia, encontra-se em todas as atividades, como na arte dos arranjos (ikebana), na cerimônia do chá e na caligrafia. Zanshin aplica-se a qualquer ação. É estar plenamente presente naquilo em que se faz. Atento a cada gesto, por menor e fugidio que ele seja. Deshimaru afirma que a beleza natural do corpo é um reflexo do treinamento da mente na concentração nos gestos. Através do exercício, os gestos se tornam fáceis e controlados, e o corpo encontra sua beleza.
Shikantaza significa assentar-se em zazen gratuitamente e sem espírito de lucro (mushotoku). Sentar-se em zazen, assevera Deshimaru, não é a busca pelo satori (iluminação), mas é ele mesmo já o satori. É retornar ao estado normal da consciência, à Natureza de Buddha, a condição original e natural de nosso espírito. O satori furta-se a toda palavra, a todo conceito e nenhuma linguagem pode realmente descrevê-lo. Não é possível ensiná-lo, tampouco recebê-lo de outrem. É preciso ter a experiência por si mesmo. Eu não sou o outro e nem o outro sou eu.
Para ilustrar esse ponto, em outra passagem de seu livro, Taisen Deshimaru vale-se de um koan. Um lenhador cortava árvores na floresta. Ocorre que ele havia ouvido falar de um animal extraordinário chamado satori. Então, ele concebeu em seu coração um grande desejo de possuir esse animal. Um dia, o animal aparece para o lenhador que, imediatamente, parte em sua perseguição. Uma voz, entretanto, adverte-o que ele jamais possuiria o animal, já que o desejava. O lenhador, desapontado, retorna a seu ofício e se esquece do ocorrido. Não pensava em nada além de toras. O animal veio a ele e foi esmagado por uma árvore que o lenhador cortara.
...
Para ilustrar esse ponto, em outra passagem de seu livro, Taisen Deshimaru vale-se de um koan. Um lenhador cortava árvores na floresta. Ocorre que ele havia ouvido falar de um animal extraordinário chamado satori. Então, ele concebeu em seu coração um grande desejo de possuir esse animal. Um dia, o animal aparece para o lenhador que, imediatamente, parte em sua perseguição. Uma voz, entretanto, adverte-o que ele jamais possuiria o animal, já que o desejava. O lenhador, desapontado, retorna a seu ofício e se esquece do ocorrido. Não pensava em nada além de toras. O animal veio a ele e foi esmagado por uma árvore que o lenhador cortara.
...