quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Aristóteles, física, movimento e a natureza da luz


"A luz não é fogo nem qualquer tipo de corpo e nem mesmo algum tipo de fluído de um corpo (se fosse isso, seria algum tipo de corpo também). (Luz) é a presença do fogo ou algo aparentado com o fogo naquilo que é transparente. Não é certamente um corpo, pois dois corpos não podem estar presentes no mesmo lugar. O oposto da luz é a escuridão; e escuridão é a ausência naquilo que é transparente do estado positivo correspondente acima caracterizado."

ARISTÓTELES, De Anima, II, 7, 15

A física de Aristóteles é uma física do movimento. E movimento é uma atualização de potencialidades, ou seja, é a passagem do potencial ao efetivo.

O mármore tem a potencialidade de ser moldado numa estátua. Há movimento enquanto as marteladas e cinzeladas transformam o mármore numa escultura. Quando, após todo aquele trabalho com o cinzel, finalmente surge um Apolo, aquela potencialidade é realizada plenamente. Agora há uma estátua em ato.

Note-se, entretanto, que a passagem da potência para o ato acima descrita é realizada por um agente externo, o escultor. O mármore não tem em si mesmo o princípio de seu movimento. Os seres naturais, ao contrário dos artificiais, têm em si mesmos o princípio, sua natureza, que os faz atualizar suas potencialidades específicas.

Ora, se a física trata do movente, então a luz será tratada sob o mesmo paradigma. A luz não será fogo, corpo ou fluído que se desprende de algum corpo, mas tão somente a atualização daquilo que é transparente.

Para Aristóteles toda percepção se dá entre um órgão sensitivo, um meio e um objeto sensível. Se este é colocado próximo demais do órgão sensitivo, não há percepção. O exemplo mais claro disso é quando algo é colocado perto demais dos olhos e, por isso, não se consegue enxergá-lo distintamente. Quando o objeto é afastado do órgão e um espaço se interpõe entre eles, acontece a percepção. A distância necessária para que isso aconteça varia de acordo com o sentido.

O ar, a água e alguns corpos sólidos são transparentes, ou seja, devem sua visibilidade à cor de alguma outra coisa. O ar serve usualmente como meio entre o olho e a coisa enxergada. Quando sob a ação do fogo ou qualquer substância ígnea, o ar atualiza sua potencialidade específica de transparência e assim permite que a cor, objeto primário da visão, seja enxergada.

A escuridão é então o meio transparente não atualizado, ou seja, em potência. O fogo é o agente externo que torna a transparência potencial do ar efetiva. E a luz é a atualização da potência do meio transparente.

Um comentário:

Profº Jefferson disse...

Explicação muito interessante e, sobretudo, clara. Quero, aqui, deixar meu agradecimento ao escritor: muito obrigado!