terça-feira, 6 de junho de 2017

Príamo, Aquiles e a ordem dos deuses


Aquiles arrastando o corpo de Heitor


Após saber da morte de Pátroclo pelas mãos de Heitor, Aquiles desfaz-se em pranto e decide finalmente voltar à guerra. Põe fim à sua cólera, aceita os presentes oferecidos por Agamemnon, reconcilia-se com o filho de Atreu e prepara-se para os combates caros a Ares.

Entrementes, Heitor rejeita o sábio conselho de Polidamante de recuar suas tropas para dentro dos fortes muros de Tróia para dali dar combate aos aqueus. Com o apoio do resto das tropas troianas (Homero afirma que Atena cegara o entendimento de todos), o príncipe escolhe combater em campo aberto. Esse será seu maior erro durante a campanha contra os dânaos e custará sua vida.

No Olimpo, Zeus libera os deuses para que participem da guerra como desejarem. Os combates reiniciam e Poseidon salva Enéas da morte pelas mãos homicidas de Aquiles. Apolo, por sua vez, também salva Heitor do rei dos mirmidões, pois a hora do filho de Príamo ainda não havia chegado.

O exército de Tróia recua ante a fúria destruidora de Aquiles. Inúmeros heróis troianos perdem a vida quando, tentando escapar, mergulham no rio Escamandro e são ali emboscados por Aquiles, que os mata a fio de espada. No mesmo rio, o filho de Peleu e de Tétis captura doze príncipes troianos para os sacrificar nos funerais em honra de Pátroclo.

Escamandro revolta-se com tamanha carnificina e ataca Aquiles, prendendo-o em seus turbilhões. Graças à intervenção de Hefestos, Aquiles livra-se de Escamandro e parte em perseguição de Heitor. Este, porém, é protegido por Apolo que, tomando-lhe a aparência, corre em direção contrária a de Heitor, enganando a Aquiles e permitindo que o príncipe troiano chegue aos portões de Ílion a salvo.

Por fim, Aquiles reconhece o engôdo de Apolo e parte na direção de Heitor. Os dois heróis enfrentam-se. Zeus, junto com os outros deuses, decreta a morte de Heitor. Atena, tomando a forma de Deífobo, irmão de Heitor, instiga-o a lutar de frente com Aquiles, depois de o príncipe troiano correr três vezes em volta de sua cidade a fugir do matador aqueu.

Heitor arremessa sua lança contra Aquiles, sem atingí-lo. Ao pedir a seu irmão, Deífobo, outra lança, Heitor percebe que não há ninguém ali. Compreende, então, que fôra vítima de um ardil dos deuses e que sua sorte estava decidida. Aquiles enterra sua lança na garganta de Heitor e o príncipe morre. Não satisfeito em matá-lo, Aquiles amarra os pés do cadáver em seu carro e dá três voltas em torno de Tróia. 


                                Heitor

                                Aquiles arrastando o corpo de Heitor

A morte e a humilhação de Heitor são observadas com horror por Príamo, seu pai e rei de Tróia, Hécuba, sua mãe, Andrômaca, sua esposa e Helena, a causa de todos os males daquela guerra. A cidade está condenada, pois seu defensor está morto.

Aquiles retorna ao acampamento dos aqueus para dar curso ao funeral e às lamentações por Pátroclo. Este é depositado sobre um leito e dá-se início aos ritos fúnebres (prothesis). Cavalos dão três voltas em torno do corpo do guerreiro dânao. Ovelhas, cabras e bois são sacrificados e consumidos em um banquete em sua honra.

                                  Prothesis

À noite, na tenda de Aquiles, aparece-lhe o espectro de Pátroclo (eidolon) que o insta a sepultá-lo o quanto antes, pois, sem isso, não pode ingressar definitivamente no Hades, atravessando o Acheronte. Pátroclo pede-lhe também que seus ossos sejam enterrados juntos aos de Aquiles, depois do cumprimento do destino do guerreiro aqueu profetizado por Tétis.

Aquiles tenta abraçá-lo, mas nada consegue tocar, pois o espectro como o fumo dispersa-se. No dia seguinte, uma grande pira é montada e acesa. O corpo de Pátroclo para lá é carregado em cortejo (ekphora), escoltado pelos guerreiros aqueus e com a cabeça sustentada por Aquiles. O corpo é depositado na pira funerária.

Ovelhas, bois, cavalos, cães e os doze troianos capturados por Aquiles no rio Escamandro são ali sacrificados. Os ossos são depositados em uma urna de ouro e guardados na tenda de Aquiles. O túmulo é construído em torno da pira, a espera também dos ossos do próprio Aquiles. Jogos em homenagem ao defunto iniciam-se e Aquiles vilipendia o corpo de Heitor arrastando-o ainda três vezes em torno do túmulo de seu amigo Pátroclo.

O vilipêndio desagrada aos deuses olímpicos que decretam que tal abuso deve cessar. Zeus envia Tétis a Aquiles para que esta exija do filho o fim daquela humilhação. Ao mesmo tempo, Íris é enviada a Príamo, rei de Tróia, para inspirá-lo a dirigir-se em segredo à tenda de Aquiles e pedir-lhe em resgate o corpo de seu filho, Heitor.



                                Príamo implora a Aquiles o resgate do corpo de Heitor

Príamo, após ser visitado por Íris, toma o caminho que leva às naus aquéias. Acompanha-o um servo e carrega consigo em uma carroça grande quantidade de presentes para oferecer a Aquiles em resgate pelo corpo de seu filho. Zeus envia Hermes para escoltá-lo. Este toma a forma de um escudeiro de Aquiles e apresenta-se a Príamo a fim de conduzí-lo em segurança.

Ao chegar à tenda de aquiles, Hermes revela-se a Príamo e parte para o Olimpo em seguida. O rei troiano desce do carro e entra na tenda do terrível guerreiro aqueu. Este encontrava-se no fim de uma refeição com dois companheiros, Automedonte e Álcimo.

Graças às ordens dos deuses, dá-se a cena mais comovedora da Ilíada. O velho rei lança-se aos joelhos de Aquiles, abraçando-os e beija as mãos do assassino de seu filho. Implora-lhe que, em atenção a seu pai, Peleu, também velho, conceda-lhe o corpo de Heitor para que seja dignamente sepultado. Ambos choram. Aquiles toma as mãos do idoso e o conduz à ceia.

Inspirado pela mensagem divina trazida pela mãe, Aquiles aceita os presentes de Príamo. Ordena às servas que lavem e unjam com óleo o corpo de Heitor e, por fim, envolvam-no em um lençol. Aquiles convida Príamo a cear e depois manda prepararem-lhe leito para a noite. O rei, ainda no meio da noite, incógnito, parte conduzindo seu filho no carro em direção à Tróia.

Durante nove dias, os troianos celebram os funerais de seu defensor. No décimo, o corpo de Heitor é queimado na pira funerária, seus restos depositados em uma urna e esta é abrigada em um túmulo para ela construído.

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