Os Quatro Filósofos, Paul Rubens, 1615
Representados no quadro, da esquerda para a direita, estão Rubens, seu irmão, Justus Lipsius e Jan Wowerius. Lipsius, filólogo e humanista, foi amigo de Montaigne e empreendeu uma tentativa de restauração do pensamento antigo conhecido como Neo-estoicismo.
Uma paisagem romana ao fundo, uma coluna clássica e o busto de Sêneca (cheguei a pensar que se tratava de Aristóteles) reverenciado com flores dão uma noção clara da atitude de devoção dos presentes com relação à antiguidade.
Lipsius aponta com a mão esquerda para um livro enquanto gesticula com a mão direita dando a idéia de que a filosofia deveria se ater a apontar a verdade contida nos antigos, comentá-la e ensiná-la. Wowerius parece estar absorto, meditando no conteúdo do livro que traz aberto nas mãos, indicando a esperada atitude de reflexão pessoal sobre os conteúdos aprendidos.
Interessante também é a pena sobre a mesa, a ponto de cair, e não na mão dos dois filósofos mais próximos à ela. Me parece mais uma indicação de que se dedicavam não à inovação, ao acréscimo, mas ao comentário e ao ensino da sabedoria encontrada nos grossos tomos à frente da pena.
A expressão do irmão de Rubens parece indicar a do aluno que, diante do que lhe é ensinado, raciocina sobre o que ouviu e faz conexões mentais, ainda incipientes, com outros ensinamentos de seu mestre ou de outras fontes. A pena em sua mão está suspensa, indicando que ele não se atreve a escrever, mas espera receber a formação adequada. Terá ele pretensões filosóficas?
A atitude de Rubens parece-me a mais enigmática. Não aparenta desrespeito ao mestre, mas também não se retrata como submisso ou servil. Está de pé, tem consciência do próprio gênio ainda que pertença à um gênero diverso de atividade.
A tela data de 1615, um ano antes da condenação de Galileu em seu primeiro processo inquisitório. Rubens retrata filósofos que estão ligados intimamente a uma tradição científica que será forte e solenemente rejeitada na revolução galileana que, como uma tempestade, já estava se formando nos céus clássicos da tradição.
Uma reunião antes de uma tempestade.
magnifica obra, assim como tantas desse mestre das telas....Parabens pela a postagem....
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